Eu vejo, eu vejo!
Hoje sou eu. Amanhã serás tu. Depois de amanhã, sereis todos vós. E aí não adiantará mais reclamar.
Vejo horas sombrias à frente. Quando espantares, terão te proibido até de sonhar. E então dormiremos o amargo sono de uma noite vazia, como cadáveres no túmulo de nossa vã democracia.
Fala o que tiveres a dizer enquanto é tempo, pois eles estão chegando, com as mãos cheias de mordaças, coleiras e porretes.
Primeiro vão te processar. Depois, tomarão teu salário, roubarão o pão da tua mesa. E então, irão prender-te. Depois, matar-te-ão. E então, só restará à democracia chorar sobre teu túmulo vazio. Pois até teu cadáver será roubado.
E tua carne será fatiada, e vendida no açougue dos tiranos. E teu sangue será bebido no festim dos poderosos.
E os livros serão queimados, e sua fumaça encherá as praças públicas. E os mártires queimarão, nas fogueiras intolerantes.
E teus filhos serão cativos, nas masmorras. E seu intelecto será esmagado sob o tacão da ignorância. E sua vontade será escravizada pelas máquinas que fabricam torpes desejos.
E teus netos não terão repouso, e nascerão sem conhecer a liberdade.
E teus netos não terão ar para respirar, nem água para beber, nem estrelas para contemplar. Pois tudo será consumido pelos fabricantes de desejos.
E no mercado infame, todo homem terá seu preço, nenhuma mulher terá qualquer valor. E não haverá honra, dignidade, amor - apenas o poder dos tiranos.
E cada um gemerá nas trevas profundas, sem saber por que geme. Pois também a consciência lhes será roubada.
E os famintos gritarão: pão! E os sedentos gritarão: água! E os tiranos rirão!
E os tiranos rirão: porque são poderosos, porque são mesquinhos, porque são insanos, porque são tiranos. Porque são infelizes e vazios, porque antes de tudo são tolos. Porque riem como a besta que se devora.
E os tiranos rirão, porque caem, mas não percebem.
E o inverno será longo, longo, muito longo. Mas um dia virá a primavera.
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Um comentário:
lindo texto!
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