O crente é pescador,
Aguardando paciente
Com esperançosa linha,
Fé tenta fisgar
Mas fé não seria
A própria pescaria?
terça-feira, 18 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Capim bravo
Dança suave,
Capim ao vento
Pra cá, pra lá,
Vai, volta,
Balança, balança
Não luta,
Não cai,
Não desiste
Cede para resistir,
Resiste no ceder,
Calmo poder
Dança suave,
Capim ao vento
Capim ao vento
Pra cá, pra lá,
Vai, volta,
Balança, balança
Não luta,
Não cai,
Não desiste
Cede para resistir,
Resiste no ceder,
Calmo poder
Dança suave,
Capim ao vento
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
O homem que soltava pássaros
Algumas pessoas diziam que ele era louco, mas era o homem mais são que já conheci. Ele criava lindos pássaros, de plumagem colorida e luminosa. Alimentava-os e treinava-os com muito carinho e trabalho, em grandes viveiros cheios de árvores, galhos e folhas. Depois, quando estavam fortes e robustos, os libertava no céu azul. Saíam voando por aí, como cartas de amor para todas as pessoas, encantando o mundo com vôo gracioso e belo canto.
O oásis
O xeique Yuzif tinha um sonho, um grande sonho. Nesse mundo de tumultos, dores e maldades. Nesse mundo de barulho e inquietação, ele desejava construir um refúgio, um lugar onde todos os homens e mulheres de bem poderiam achar abrigo, repouso e alento. Onde os peregrinos encontrassem conforto e os que procuram sabedoria pudessem se reunir.
Yuzif tinha poucos recursos, não era um xeique muito rico. Mesmo assim, tinha fé em seus sonhos. Gastou cada moeda de seu tesouro, cada minuto de sua vida, mas com muito esforço conseguiu preparar seu oásis, um abrigo de paz, sabedoria e harmonia para todos os homens e mulheres justos que caminham pelos abrasadores desertos do mundo.
Yuzif tinha poucos recursos, não era um xeique muito rico. Mesmo assim, tinha fé em seus sonhos. Gastou cada moeda de seu tesouro, cada minuto de sua vida, mas com muito esforço conseguiu preparar seu oásis, um abrigo de paz, sabedoria e harmonia para todos os homens e mulheres justos que caminham pelos abrasadores desertos do mundo.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Monstros
Dizem lendas
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis:
Enchem ares de fumaça,
Águas de veneno,
Terras de fezes assustadoras;
Pelos céus voam,
Cuspindo bolas de fogo;
Pela terra rastejam,
Derrubando árvores,
Exterminando animais,
Devorando uns aos outros;
Multiplicam-se, multiplicam-se,
Como vermes em cemitério,
Em coitos satânicos
Dizem lendas
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis,
Com cabeça humana
E humano corpo
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis:
Enchem ares de fumaça,
Águas de veneno,
Terras de fezes assustadoras;
Pelos céus voam,
Cuspindo bolas de fogo;
Pela terra rastejam,
Derrubando árvores,
Exterminando animais,
Devorando uns aos outros;
Multiplicam-se, multiplicam-se,
Como vermes em cemitério,
Em coitos satânicos
Dizem lendas
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis,
Com cabeça humana
E humano corpo
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
O Clube dos Barbudos
Pantótila era uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente levava uma vida tranquila e sem sobressaltos.
Um dos cidadãos de Pantótila se chamava Beroaldo, homem pacífico e inofensivo como seus vizinhos. Talvez pela monotonia da cidade, talvez por esquisitice de sua personalidade, ele cultivava uma longa barba; gastava longos minutos por dia cuidando de sua pelagem facial. Certo dia, teve uma ideia: por que não fundar um "Clube dos Barbudos"? Comunicou a ideia aos outros onze barbudos de Pantótila, que gostaram da ideia e passaram a realizar encontros semanais na residência de Beroaldo. Nas reuniões, tomavam café, comiam biscoitos e discutiam teorias, métodos e dilemas pertinentes ao peculiar cultivo a que se consagravam.
No entanto, a novidade deixou alarmada a boa gente de Pantótila, desacostumada de qualquer acontecimento, significativo ou insignificante. Rumores e temores começaram a correr. Que coisa estranha era aquela? O que aqueles homens pretendiam? Aquilo não era normal, não podia ser. Havia algum segredo obscuro, uma ameaça que se preparava. O Clube dos Barbudos era simples fachada para propósitos sinistros. Aquelas barbas, curtas ou compridas, repartidas ou trançadas, aparadas ou desgrenhadas deviam servir apenas como código para comunicações inconfessáveis. Aquelas reuniões eram um perigo para a civilização, a religião, a moral e os bons costumes.
Certa tarde, durante o encontro do Clube dos Barbudos, a turba enfurecida cercou a casa de Beroaldo. Obstruíram as portas com pesados bancos de madeira e atearam fogo. Beroaldo e seus amigos tentaram fugir, em vão: morreram todos no incêndio. Restaram apenas as cinzas da casa, sepultando os medonhos segredos daquela conspiração.
Pantótila voltava a ser uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente podia retomar sua vida tranquila e sem sobressaltos.
Um dos cidadãos de Pantótila se chamava Beroaldo, homem pacífico e inofensivo como seus vizinhos. Talvez pela monotonia da cidade, talvez por esquisitice de sua personalidade, ele cultivava uma longa barba; gastava longos minutos por dia cuidando de sua pelagem facial. Certo dia, teve uma ideia: por que não fundar um "Clube dos Barbudos"? Comunicou a ideia aos outros onze barbudos de Pantótila, que gostaram da ideia e passaram a realizar encontros semanais na residência de Beroaldo. Nas reuniões, tomavam café, comiam biscoitos e discutiam teorias, métodos e dilemas pertinentes ao peculiar cultivo a que se consagravam.
No entanto, a novidade deixou alarmada a boa gente de Pantótila, desacostumada de qualquer acontecimento, significativo ou insignificante. Rumores e temores começaram a correr. Que coisa estranha era aquela? O que aqueles homens pretendiam? Aquilo não era normal, não podia ser. Havia algum segredo obscuro, uma ameaça que se preparava. O Clube dos Barbudos era simples fachada para propósitos sinistros. Aquelas barbas, curtas ou compridas, repartidas ou trançadas, aparadas ou desgrenhadas deviam servir apenas como código para comunicações inconfessáveis. Aquelas reuniões eram um perigo para a civilização, a religião, a moral e os bons costumes.
Certa tarde, durante o encontro do Clube dos Barbudos, a turba enfurecida cercou a casa de Beroaldo. Obstruíram as portas com pesados bancos de madeira e atearam fogo. Beroaldo e seus amigos tentaram fugir, em vão: morreram todos no incêndio. Restaram apenas as cinzas da casa, sepultando os medonhos segredos daquela conspiração.
Pantótila voltava a ser uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente podia retomar sua vida tranquila e sem sobressaltos.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Boas notícias
Quase sem esperar,
Espero boas notícias,
Uma esperança qualquer,
Na sombra do desespero
Espero boas notícias,
Uma esperança qualquer,
Na sombra do desespero
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Alienação
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
domingo, 10 de agosto de 2014
Caminho
O caminho é longo,
Difícil a estrada,
Há pedras, espinhos,
Perigosa jornada
Passo a passo,
Segue o viajante,
Cansado prossegue,
Esforço constante
Vai o andarilho,
Atrás a História,
Vai o andarilho,
À frente a vitória
Difícil a estrada,
Há pedras, espinhos,
Perigosa jornada
Passo a passo,
Segue o viajante,
Cansado prossegue,
Esforço constante
Vai o andarilho,
Atrás a História,
Vai o andarilho,
À frente a vitória
Terra Prometida
Ali, logo ali,
Depois do mar,
Através do deserto,
Por cima dos montes,
Vejo a Terra Prometida
Vou com passos firmes,
Passos calmos, pacientes,
Suando sangue,
Sangrando lágrimas,
Vou com coragem, esperança,
Pois vejo a Terra Prometida
Depois do mar,
Através do deserto,
Por cima dos montes,
Vejo a Terra Prometida
Vou com passos firmes,
Passos calmos, pacientes,
Suando sangue,
Sangrando lágrimas,
Vou com coragem, esperança,
Pois vejo a Terra Prometida
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
O produto
Desenvolvemos o produto após longos meses de pesquisas de mercado, com público de variadas idades. Percebemos que existe uma demanda real pelo produto.
Ele é ao mesmo tempo útil, necessário, divertido, bonito, simples, luxuoso, viciante, sustentável, aparentemente revolucionário, mas profundamente conservador. E, principalmente, descartável. Todos vão querer consumi-lo. Até cansarem. Depois podemos oferecer outro similar, e então outro, sempre com investimentos e riscos progressivamente menores.
A estratégia de venda é simples: bombardeio midiático massivo, contínuo e constante. Quando o público espantar, não pensará mais em outra coisa. O produto habitará seus sonhos; estarão famintos por ele. Em pouco tempo será uma referência incontornável, ditando tendências e comportamentos. O consumidor médio mal saberá onde ele próprio termina e onde começa o produto.
Para as crianças, será uma babá, um ídolo, um herói e uma figura materna. Para os jovens, será um líder, um amigo e um modelo. Para as mulheres, será um filhote e um amante. Para os homens, um brinquedo, um objeto de desejo e um símbolo de virilidade.
Em suma, depois do produto, o mundo será completamente diferente, mas continuará exatamente o mesmo.
Ele é ao mesmo tempo útil, necessário, divertido, bonito, simples, luxuoso, viciante, sustentável, aparentemente revolucionário, mas profundamente conservador. E, principalmente, descartável. Todos vão querer consumi-lo. Até cansarem. Depois podemos oferecer outro similar, e então outro, sempre com investimentos e riscos progressivamente menores.
A estratégia de venda é simples: bombardeio midiático massivo, contínuo e constante. Quando o público espantar, não pensará mais em outra coisa. O produto habitará seus sonhos; estarão famintos por ele. Em pouco tempo será uma referência incontornável, ditando tendências e comportamentos. O consumidor médio mal saberá onde ele próprio termina e onde começa o produto.
Para as crianças, será uma babá, um ídolo, um herói e uma figura materna. Para os jovens, será um líder, um amigo e um modelo. Para as mulheres, será um filhote e um amante. Para os homens, um brinquedo, um objeto de desejo e um símbolo de virilidade.
Em suma, depois do produto, o mundo será completamente diferente, mas continuará exatamente o mesmo.
Epitáfios futuros
Jorge Abreu
Nasceu,
Cresceu,
Consumiu
E morreu
Prometeu da Silva
Bom filho,
Bom cidadão,
Preso político
Dilma Roussef
Primeiro vítima,
Depois algoz
Olímpio Serra
Pai exemplar
E cabo eleitoral.
Vote 6666!
Juvenil Juvenal
Trabalhava,
Trabalhava
E trabalhava.
Tão jovem...
Helena dos Santos
Sobreviveu até onde o salário mínimo permitiu.
Eduardo Paes
Não deixa saudades.
Eleutéria Joaquina
Quase viveu...
Eustáquio Silveira
Sem educação,
Sem emprego,
Sem eira,
Sem beira
Cláudia Costin
Economista dedicada
E demolidora educacional
Carla Faria
Prometia,
Não fazia
Cláudio Sobral
Empresário e imoral
Teresa de Jesus
Fosse mais curta a fila do SUS...
Antônio Pascoal
Analfabeto e intelectual
Nasceu,
Cresceu,
Consumiu
E morreu
Prometeu da Silva
Bom filho,
Bom cidadão,
Preso político
Dilma Roussef
Primeiro vítima,
Depois algoz
Olímpio Serra
Pai exemplar
E cabo eleitoral.
Vote 6666!
Juvenil Juvenal
Trabalhava,
Trabalhava
E trabalhava.
Tão jovem...
Helena dos Santos
Sobreviveu até onde o salário mínimo permitiu.
Eduardo Paes
Não deixa saudades.
Eleutéria Joaquina
Quase viveu...
Eustáquio Silveira
Sem educação,
Sem emprego,
Sem eira,
Sem beira
Cláudia Costin
Economista dedicada
E demolidora educacional
Carla Faria
Prometia,
Não fazia
Cláudio Sobral
Empresário e imoral
Teresa de Jesus
Fosse mais curta a fila do SUS...
Antônio Pascoal
Analfabeto e intelectual
Manhã
Fria noite,
Escura madrugada.
Livre e audaz,
Canta o galo:
Com tímidos raios,
O povo amanheceu.
Reticente hesita
Rosada manhã.
Fraca luz,
Longas sombras,
Ainda.
Apenas ainda.
Cedo,
Logo,
Hoje,
Brilhando ousado,
O povo será meio-dia
Escura madrugada.
Livre e audaz,
Canta o galo:
Com tímidos raios,
O povo amanheceu.
Reticente hesita
Rosada manhã.
Fraca luz,
Longas sombras,
Ainda.
Apenas ainda.
Cedo,
Logo,
Hoje,
Brilhando ousado,
O povo será meio-dia
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Tiranetes
Estranho mofo,
Triste praga,
Brotam tiranetes
Onde falta democracia
Brotam em casa,
Igreja e jornal,
Brotam em escola,
Empresa e hospital
Brotam em partido,
Delegacia e sinal
Estranho mofo,
Triste praga,
Murcham tiranetes
Onde sobra ousadia
Triste praga,
Brotam tiranetes
Onde falta democracia
Brotam em casa,
Igreja e jornal,
Brotam em escola,
Empresa e hospital
Brotam em partido,
Delegacia e sinal
Estranho mofo,
Triste praga,
Murcham tiranetes
Onde sobra ousadia
Bruxa
Num lugar sombrio, numa época sombria. Diante do povo bestializado, o juiz interrogava uma mulher.
-És bruxa?
-Tu o dizes.
-Envenenaste as águas?
-Tu o dizes.
-Queimaste os campos?
-Tu o dizes.
-Corrompeste a juventude?
-Tu o dizes.
-Queres perdão?
-Tu o dizes.
-Por provas contundentes e testemunhos inquestionáveis, condeno essa mulher a ser bruxa e a arder na fogueira.
-És bruxa?
-Tu o dizes.
-Envenenaste as águas?
-Tu o dizes.
-Queimaste os campos?
-Tu o dizes.
-Corrompeste a juventude?
-Tu o dizes.
-Queres perdão?
-Tu o dizes.
-Por provas contundentes e testemunhos inquestionáveis, condeno essa mulher a ser bruxa e a arder na fogueira.
terça-feira, 29 de julho de 2014
Perigo: professores
Era um tempo estranho, num país distante, com uma democracia de faz-de-conta. Tiranos e tiranetes ocupavam o poder, a serviço de empresários, com o apoio de empresários.
O povo, cansado, angustiado e desesperado se rebelou. Levantes estouravam aqui e ali, de norte a sul. Bárbaros-vândalos ameaçavam as muralhas da civilização bem-nascida e mal-eleita.
Era preciso encontrar um culpado, era necessário inventar líderes. Quem? A culpa era dos professores. De História. De Filosofia. Gente inquieta, gente perigosa. Uma lacaia ignorante e entusiasmada gritou: "Cuide do seu filho, antes que um professor de História ou Filosofia o adote". Outros lacaios, igualmente servis e dementes concordaram. Era melhor, para bem da democracia, que ninguém mais aprendesse História, nem Filosofia. E assim, os historiadores e filósofos foram perseguidos, presos e executados. Seus livros foram queimados em praça pública. Comemoraram com imenso Carnaval. Problema resolvido.
Mas o povinho, teimoso, continuava revoltado. Os tiranos não entendiam! O povo tinha tudo que poderia sonhar: futebol, sexo, novela, cartão de crédito, cerveja. Não era possível que estivessem descontentes. Havia líderes, havia culpados: professores, de novo. De Geografia, Artes Visuais, Física, Música, Inglês, Espanhol, Sociologia, Educação Física, Biologia, Química. Foram todos devidamente eliminados, como cães raivosos. O currículo escolar foi limitado ao essencial: Português e Matemática. As crianças e jovens tinham aulas apenas duas vezes por semana. As escolas se encheram de um silêncio escuro e mortiço.
Mas o povo não se aquietava. Até Português Matemática eram demais. Os jovens ainda eram mais ou menos capazes de interpretar textos: inadmissível! E então, os últimos professores morreram. As escolas agora funcionavam apenas com televisores, computadores e apostilas, de conteúdo pacificado e inofensivo, reforçado por exercícios monótonos e repetitivos. As salas de aula suspiravam com o alívio sombrio e o contentamento obtuso que apenas a Educação da pior qualidade garante.
Os tiranos finalmente dormiram aliviados.
O povo, cansado, angustiado e desesperado se rebelou. Levantes estouravam aqui e ali, de norte a sul. Bárbaros-vândalos ameaçavam as muralhas da civilização bem-nascida e mal-eleita.
Era preciso encontrar um culpado, era necessário inventar líderes. Quem? A culpa era dos professores. De História. De Filosofia. Gente inquieta, gente perigosa. Uma lacaia ignorante e entusiasmada gritou: "Cuide do seu filho, antes que um professor de História ou Filosofia o adote". Outros lacaios, igualmente servis e dementes concordaram. Era melhor, para bem da democracia, que ninguém mais aprendesse História, nem Filosofia. E assim, os historiadores e filósofos foram perseguidos, presos e executados. Seus livros foram queimados em praça pública. Comemoraram com imenso Carnaval. Problema resolvido.
Mas o povinho, teimoso, continuava revoltado. Os tiranos não entendiam! O povo tinha tudo que poderia sonhar: futebol, sexo, novela, cartão de crédito, cerveja. Não era possível que estivessem descontentes. Havia líderes, havia culpados: professores, de novo. De Geografia, Artes Visuais, Física, Música, Inglês, Espanhol, Sociologia, Educação Física, Biologia, Química. Foram todos devidamente eliminados, como cães raivosos. O currículo escolar foi limitado ao essencial: Português e Matemática. As crianças e jovens tinham aulas apenas duas vezes por semana. As escolas se encheram de um silêncio escuro e mortiço.
Mas o povo não se aquietava. Até Português Matemática eram demais. Os jovens ainda eram mais ou menos capazes de interpretar textos: inadmissível! E então, os últimos professores morreram. As escolas agora funcionavam apenas com televisores, computadores e apostilas, de conteúdo pacificado e inofensivo, reforçado por exercícios monótonos e repetitivos. As salas de aula suspiravam com o alívio sombrio e o contentamento obtuso que apenas a Educação da pior qualidade garante.
Os tiranos finalmente dormiram aliviados.
terça-feira, 22 de julho de 2014
O rei cagado
Me perdoe o leitor
Um poema abusado
Que conta a história
De um rei todo cagado
Era rei muito tirano
E também muito malvado
Pisava em seu povo
Que sofria, coitado!
Era bem vaidoso,
Só andava arrumado,
Só vestia o melhor,
Sempre estava perfumado
E o povo sofredor,
Com cinto apertado,
Não comia quase nada,
Vivia esfaimado
Um dia, numa festa,
Ia o rei todo enfeitado,
Mas as tripas gemiam,
O intestino revoltado
Não sabia o que fazer
O monarca encabulado,
Se corria pro penico
Ou ficava todo borrado
O visconde ficou logo
Bastante preocupado
Porque o rei parecia
Que estava emburrado
E esse tal soberano
Não aceitava ser contrariado
Nem pelo intestino
Que brigava indignado
Estourou a revolta,
Contra o rei malvado
A barriga insurgente
O deixou lambuzado
E os nobres riam
Do rei todo cagado
E o povo apontava
Para o rei todo cagado
Ninguém sabe onde anda
Esse rei envergonhado,
Dizem todos por aí
Que está bem exilado
Um poema abusado
Que conta a história
De um rei todo cagado
Era rei muito tirano
E também muito malvado
Pisava em seu povo
Que sofria, coitado!
Era bem vaidoso,
Só andava arrumado,
Só vestia o melhor,
Sempre estava perfumado
E o povo sofredor,
Com cinto apertado,
Não comia quase nada,
Vivia esfaimado
Um dia, numa festa,
Ia o rei todo enfeitado,
Mas as tripas gemiam,
O intestino revoltado
Não sabia o que fazer
O monarca encabulado,
Se corria pro penico
Ou ficava todo borrado
O visconde ficou logo
Bastante preocupado
Porque o rei parecia
Que estava emburrado
E esse tal soberano
Não aceitava ser contrariado
Nem pelo intestino
Que brigava indignado
Estourou a revolta,
Contra o rei malvado
A barriga insurgente
O deixou lambuzado
E os nobres riam
Do rei todo cagado
E o povo apontava
Para o rei todo cagado
Ninguém sabe onde anda
Esse rei envergonhado,
Dizem todos por aí
Que está bem exilado
Tirano e tiranetes
Tirano reinava,
Acompanhado de tiranetes;
Quando tirano morreu,
Tiranetes fizeram festa
Acompanhado de tiranetes;
Quando tirano morreu,
Tiranetes fizeram festa
Corpo e alma
Os tiranos
Proíbem,
Agridem,
Machucam,
Atiram,
Massacram,
Prendem,
Torturam,
Mutilam,
Estupram,
Matam
Mas não se engane!
Eles só quebram corpos
Para curvar almas
Proíbem,
Agridem,
Machucam,
Atiram,
Massacram,
Prendem,
Torturam,
Mutilam,
Estupram,
Matam
Mas não se engane!
Eles só quebram corpos
Para curvar almas
Gorlimanz
"O preço da liberdade é a eterna vigilância"
Cavaleiro Gorlimanz
Saiu a cavalgar,
Para mundo afora
Monstros enfrentar
Ao Norte,
Hidra feroz
Ao Sul,
Tigre veloz
A Leste,
Dragão pavoroso,
A Oeste,
Tirano medroso
Cavaleiro Gorlimanz
Saiu a cavalgar,
Seu triste combate
Nunca irá terminar
Cavaleiro Gorlimanz
Saiu a cavalgar,
Para mundo afora
Monstros enfrentar
Ao Norte,
Hidra feroz
Ao Sul,
Tigre veloz
A Leste,
Dragão pavoroso,
A Oeste,
Tirano medroso
Cavaleiro Gorlimanz
Saiu a cavalgar,
Seu triste combate
Nunca irá terminar
A hora do povo
Passou a hora
De ser classe,
De ser título,
De ser carreira,
De ser nome,
De ser discurso
Chegou a hora
De ser trovão,
De ser avalanche,
De ser maremoto,
De ser furacão,
De ser erupção
Chegou a hora
De ser povo
De ser classe,
De ser título,
De ser carreira,
De ser nome,
De ser discurso
Chegou a hora
De ser trovão,
De ser avalanche,
De ser maremoto,
De ser furacão,
De ser erupção
Chegou a hora
De ser povo
O impossível
Não me fale
Do impossível,
Não acredito
No impossível,
Não existe
O impossível,
Pra quem tem
Fé, força, coragem
Do impossível,
Não acredito
No impossível,
Não existe
O impossível,
Pra quem tem
Fé, força, coragem
segunda-feira, 21 de julho de 2014
O tirano e o poeta
Disse o tirano ao poeta:
"Contra ti,
Tenho dinheiro, homens, covardia"
Disse o poeta ao tirano
"Contra ti,
Tenho sutil arma, a ironia"
E os tiranos fazem dor,
E a dor faz poesia
"Contra ti,
Tenho dinheiro, homens, covardia"
Disse o poeta ao tirano
"Contra ti,
Tenho sutil arma, a ironia"
E os tiranos fazem dor,
E a dor faz poesia
Herói e tirano
Dedicado ao amigo Roger Marques
Um herói,
Para derrubar tiranias,
Veio, viu e venceu
E assim,
Naqueles dias,
Novo tirano nasceu
Um herói,
Para derrubar tiranias,
Veio, viu e venceu
E assim,
Naqueles dias,
Novo tirano nasceu
Livre
Tenho um refúgio,
Reduto inviolável,
Fortaleza invencível,
Santuário a toda prova
Tiranos podem
Controlar governo,
Justiça, polícia
Dominar indústria,
Comércio, finanças
Mandar em jornais,
Rádios, televisão
Possuir soldados,
Navios, aviões
Disparar bombas,
Balas, mandados
Mas nunca terão,
Jamais tomarão
O refúgio de minha mente,
O reduto de minha vontade,
A fortaleza de meu coração,
O santuário de minha alma
Reduto inviolável,
Fortaleza invencível,
Santuário a toda prova
Tiranos podem
Controlar governo,
Justiça, polícia
Dominar indústria,
Comércio, finanças
Mandar em jornais,
Rádios, televisão
Possuir soldados,
Navios, aviões
Disparar bombas,
Balas, mandados
Mas nunca terão,
Jamais tomarão
O refúgio de minha mente,
O reduto de minha vontade,
A fortaleza de meu coração,
O santuário de minha alma
domingo, 20 de julho de 2014
Gotas d'água
Dedicado a David Mitchell
Sou a gota d'água,
Humilde gota d'água,
Insignificante gota d'água,
Apenas gota d'água
Sou a maré que confunde,
O vagalhão que arrebata,
A tempestade que inunda,
O rio que arrasta
Somos gotas d'água,
Humildes gotas d'água,
Insignificantes gotas d'água,
Apenas gotas d'água...
Sou a gota d'água,
Humilde gota d'água,
Insignificante gota d'água,
Apenas gota d'água
Sou a maré que confunde,
O vagalhão que arrebata,
A tempestade que inunda,
O rio que arrasta
Somos gotas d'água,
Humildes gotas d'água,
Insignificantes gotas d'água,
Apenas gotas d'água...
Prisão carioca
A Razão está presa,
Divide cela com a Igualdade,
A Coragem seca lágrimas
Da enferma Liberdade
Divide cela com a Igualdade,
A Coragem seca lágrimas
Da enferma Liberdade
Na casa dos tolos
Manda quem é tolo,
Quem é mais tolo obedece,
Morre o sensato,
Enquanto o cretino enriquece
Quem é mais tolo obedece,
Morre o sensato,
Enquanto o cretino enriquece
A festa dos idiotas
Nunca se acaba
A festa dos idiotas,
Nunca termina
A alegria dos tolos
Ruidosos, bêbados,
Risonhos, deslumbrados,
Satisfeitos, sonâmbulos,
Esquecidos, drogados
Riem de tudo,
Riem do que é bom,
Riem do que é mau,
Riem do que não entendem
A festa dos idiotas
Nunca se acaba,
A alegria dos tolos
Nunca termina
A festa dos idiotas,
Nunca termina
A alegria dos tolos
Ruidosos, bêbados,
Risonhos, deslumbrados,
Satisfeitos, sonâmbulos,
Esquecidos, drogados
Riem de tudo,
Riem do que é bom,
Riem do que é mau,
Riem do que não entendem
A festa dos idiotas
Nunca se acaba,
A alegria dos tolos
Nunca termina
Democracia carioca
Na democracia carioca,
Tudo corre ao contrário:
Tirano fica solto,
Manifestante é presidiário
Tudo corre ao contrário:
Tirano fica solto,
Manifestante é presidiário
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Memórias
Memórias estranhas,
Memórias perdidas
Uma espada gaulesa,
Um pergaminho romano
Um cajado na grama,
Uma fogueira na pedra
Um escudo fendido,
Um martelo sangrento
Uma ilha distante,
Uma folha de papel
Um piano,
Uma floresta
Uma ponte em Paris,
Um fuzil na Indochina
Ilhas de lembrança
Num mar de esquecimento
Memórias perdidas
Uma espada gaulesa,
Um pergaminho romano
Um cajado na grama,
Uma fogueira na pedra
Um escudo fendido,
Um martelo sangrento
Uma ilha distante,
Uma folha de papel
Um piano,
Uma floresta
Uma ponte em Paris,
Um fuzil na Indochina
Ilhas de lembrança
Num mar de esquecimento
O punhal sangrento
Poderá mentir,
Poderá negar,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá fugir,
Poderá correr,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá sorrir,
Poderá cantar,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá esconder,
Poderá morrer,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá negar,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá fugir,
Poderá correr,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá sorrir,
Poderá cantar,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
Poderá esconder,
Poderá morrer,
Mas não esquecerá.
O punhal sangrento,
O punhal sangrento...
O estraga-festa
Na imoral orgia,
Bacanal dos poderosos,
Vinho, ópio, podridão,
Sórdida alegria,
Violenta opressão,
Corriam soltos.
De repente,
Silêncio.
Música parada,
Vozes mudas.
Chegara o estraga-festas,
Faminto gigante,
O povo.
Bacanal dos poderosos,
Vinho, ópio, podridão,
Sórdida alegria,
Violenta opressão,
Corriam soltos.
De repente,
Silêncio.
Música parada,
Vozes mudas.
Chegara o estraga-festas,
Faminto gigante,
O povo.
sábado, 12 de julho de 2014
O sono dos justos
Dormem os justos,
Na cama da prisão;
Insones tiranos se agitam,
Nos lençóis da opressão
Na cama da prisão;
Insones tiranos se agitam,
Nos lençóis da opressão
A pedra
Uma estrada,
Uma grande estrada,
Para o progresso,
Para as mercadorias,
Para o dinheiro,
Para benefício do povo,
Para glória da nação,
Para riqueza dos empreiteiros,
Para lugar nenhum
A Presidente queria,
O Congresso queria,
Os Governadores queriam,
Os Prefeitos queriam
Os Empresários queriam,
O povo não
Começou a obra:
Derrubaram árvores,
Afundaram montanhas,
Afogaram rios,
Despejaram homens
Mas, no caminho, havia uma pedra,
Havia a pedra no caminho
Pedra pequena,
Menos de um palmo;
Tentou erguer o operário:
Não conseguiu!
Vieram dois:
Novo fracasso!
Vieram três:
Nada!
Chamaram o engenheiro,
Veio a britadeira,
Um barulho ensurdecedor:
Nada!
Veio a escavadeira:
Nada!
Veio a dinamite:
Nada!
Veio o bate estacas:
Nada!
Veio o lacrimogênio:
Nada!
Veio o revólver:
Nada!
Veio o fuzil:
Nada!
Veio o tanque:
Nada!
Veio o caça:
Nada!
Veio o porta-aviões:
Nada!
Veio a bomba atômica:
Nada!
E não houve estrada
No caminho havia uma pedra,
Havia a pedra no caminho
Uma grande estrada,
Para o progresso,
Para as mercadorias,
Para o dinheiro,
Para benefício do povo,
Para glória da nação,
Para riqueza dos empreiteiros,
Para lugar nenhum
A Presidente queria,
O Congresso queria,
Os Governadores queriam,
Os Prefeitos queriam
Os Empresários queriam,
O povo não
Começou a obra:
Derrubaram árvores,
Afundaram montanhas,
Afogaram rios,
Despejaram homens
Mas, no caminho, havia uma pedra,
Havia a pedra no caminho
Pedra pequena,
Menos de um palmo;
Tentou erguer o operário:
Não conseguiu!
Vieram dois:
Novo fracasso!
Vieram três:
Nada!
Chamaram o engenheiro,
Veio a britadeira,
Um barulho ensurdecedor:
Nada!
Veio a escavadeira:
Nada!
Veio a dinamite:
Nada!
Veio o bate estacas:
Nada!
Veio o lacrimogênio:
Nada!
Veio o revólver:
Nada!
Veio o fuzil:
Nada!
Veio o tanque:
Nada!
Veio o caça:
Nada!
Veio o porta-aviões:
Nada!
Veio a bomba atômica:
Nada!
E não houve estrada
No caminho havia uma pedra,
Havia a pedra no caminho
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Paes chega ao submundo
Átila ria,
Herodes gargalhava
Bórgia irônico sorria
Nero cochilava
Imundo demais para o Céu,
Patético demais para o inferno;
Quem se importa
Com tiranos de Carnaval?
Herodes gargalhava
Bórgia irônico sorria
Nero cochilava
Imundo demais para o Céu,
Patético demais para o inferno;
Quem se importa
Com tiranos de Carnaval?
Costin e Bomeny
Duas lacaias,
Servis paespalhas,
Chafurdavam na lama.
Matou uma a Educação,
Roía a outra os restos sangrentos;
Tristes e serviçais,
De rabo abanando,
Lambiam as botas do tirano.
Pequenos poderes
São fortes coleiras...
Servis paespalhas,
Chafurdavam na lama.
Matou uma a Educação,
Roía a outra os restos sangrentos;
Tristes e serviçais,
De rabo abanando,
Lambiam as botas do tirano.
Pequenos poderes
São fortes coleiras...
Molosse
Je suis molosse,
Chien et colosse.
Je suis printemps, été,
Le chien mordant de liberte.
Mon coeur est doux,
Ma dente est dure.
Halte-là, tyran qui venez!
Quand je mords, vous criez!
Chien et colosse.
Je suis printemps, été,
Le chien mordant de liberte.
Mon coeur est doux,
Ma dente est dure.
Halte-là, tyran qui venez!
Quand je mords, vous criez!
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Profecias do lugar sombrio
Eu vejo, eu vejo!
Hoje sou eu. Amanhã serás tu. Depois de amanhã, sereis todos vós. E aí não adiantará mais reclamar.
Vejo horas sombrias à frente. Quando espantares, terão te proibido até de sonhar. E então dormiremos o amargo sono de uma noite vazia, como cadáveres no túmulo de nossa vã democracia.
Fala o que tiveres a dizer enquanto é tempo, pois eles estão chegando, com as mãos cheias de mordaças, coleiras e porretes.
Primeiro vão te processar. Depois, tomarão teu salário, roubarão o pão da tua mesa. E então, irão prender-te. Depois, matar-te-ão. E então, só restará à democracia chorar sobre teu túmulo vazio. Pois até teu cadáver será roubado.
E tua carne será fatiada, e vendida no açougue dos tiranos. E teu sangue será bebido no festim dos poderosos.
E os livros serão queimados, e sua fumaça encherá as praças públicas. E os mártires queimarão, nas fogueiras intolerantes.
E teus filhos serão cativos, nas masmorras. E seu intelecto será esmagado sob o tacão da ignorância. E sua vontade será escravizada pelas máquinas que fabricam torpes desejos.
E teus netos não terão repouso, e nascerão sem conhecer a liberdade.
E teus netos não terão ar para respirar, nem água para beber, nem estrelas para contemplar. Pois tudo será consumido pelos fabricantes de desejos.
E no mercado infame, todo homem terá seu preço, nenhuma mulher terá qualquer valor. E não haverá honra, dignidade, amor - apenas o poder dos tiranos.
E cada um gemerá nas trevas profundas, sem saber por que geme. Pois também a consciência lhes será roubada.
E os famintos gritarão: pão! E os sedentos gritarão: água! E os tiranos rirão!
E os tiranos rirão: porque são poderosos, porque são mesquinhos, porque são insanos, porque são tiranos. Porque são infelizes e vazios, porque antes de tudo são tolos. Porque riem como a besta que se devora.
E os tiranos rirão, porque caem, mas não percebem.
E o inverno será longo, longo, muito longo. Mas um dia virá a primavera.
Hoje sou eu. Amanhã serás tu. Depois de amanhã, sereis todos vós. E aí não adiantará mais reclamar.
Vejo horas sombrias à frente. Quando espantares, terão te proibido até de sonhar. E então dormiremos o amargo sono de uma noite vazia, como cadáveres no túmulo de nossa vã democracia.
Fala o que tiveres a dizer enquanto é tempo, pois eles estão chegando, com as mãos cheias de mordaças, coleiras e porretes.
Primeiro vão te processar. Depois, tomarão teu salário, roubarão o pão da tua mesa. E então, irão prender-te. Depois, matar-te-ão. E então, só restará à democracia chorar sobre teu túmulo vazio. Pois até teu cadáver será roubado.
E tua carne será fatiada, e vendida no açougue dos tiranos. E teu sangue será bebido no festim dos poderosos.
E os livros serão queimados, e sua fumaça encherá as praças públicas. E os mártires queimarão, nas fogueiras intolerantes.
E teus filhos serão cativos, nas masmorras. E seu intelecto será esmagado sob o tacão da ignorância. E sua vontade será escravizada pelas máquinas que fabricam torpes desejos.
E teus netos não terão repouso, e nascerão sem conhecer a liberdade.
E teus netos não terão ar para respirar, nem água para beber, nem estrelas para contemplar. Pois tudo será consumido pelos fabricantes de desejos.
E no mercado infame, todo homem terá seu preço, nenhuma mulher terá qualquer valor. E não haverá honra, dignidade, amor - apenas o poder dos tiranos.
E cada um gemerá nas trevas profundas, sem saber por que geme. Pois também a consciência lhes será roubada.
E os famintos gritarão: pão! E os sedentos gritarão: água! E os tiranos rirão!
E os tiranos rirão: porque são poderosos, porque são mesquinhos, porque são insanos, porque são tiranos. Porque são infelizes e vazios, porque antes de tudo são tolos. Porque riem como a besta que se devora.
E os tiranos rirão, porque caem, mas não percebem.
E o inverno será longo, longo, muito longo. Mas um dia virá a primavera.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
A morte de Paes
No túmulo de Paes
- Coisa estranha -
Nenhum verme comeu!
Tinham nojo todos
Do prefeito que morreu...
- Coisa estranha -
Nenhum verme comeu!
Tinham nojo todos
Do prefeito que morreu...
domingo, 6 de julho de 2014
O Guerreiro e o Tirano
Governava o Tirano,
Do alto da colina,
Em portentoso castelo,
Impávida fortaleza;
Gemia o povo,
Sob a sola de seus pés,
O casco de seus cavalos,
O retinir de suas armas;
Parasitas partilhavam de sua mesa
Uma voz se ergueu
O Guerreiro não aceitava mais.
Percorreu planícies, florestas, montanhas;
Do povo, um a um,
Tropa surgiu;
Pequena, frágil,
Ínfima como pulga,
Incômoda como pulga
No primeiro ano,
Atacaram o castelo;
Escadas e cordas contra muralhas,
Sangue e ferro
Contra pedra e covardia;
Muitos caíram,
Poucos escaparam
Mas não desistia o Guerreiro
No segundo ano,
Emboscaram o Tirano,
Que caçava nos pântanos do oeste;
Aos gritos, massacraram a comitiva;
Por pouco escapou o Tirano
Mas não desistia o Guerreiro
No terceiro ano,
Sitiaram o castelo;
Rumores percorreram a terra,
Esperança renascia,
O povo acreditava;
Gente, gente e mais gente
Vinha engrossar o cerco;
Vitória parecia iminente.
Mas chegou Inverno,
Traiçoeiro soldado.
Dentro e fora dos muros,
Ceifava a fome;
O povo debandou,
O cerco caiu.
Vencia o Tirano,
Mais uma vez
Mas não desistia o Guerreiro
No quarto ano,
Novo cerco;
A esperança sumira,
O povo temia,
O Inverno chegaria;
Esmagada a revolta,
Escaparam o Guerreiro e mais dez
Mas não desistia o Guerreiro
No quinto ano,
O Tirano perseguiu a esperança;
Seus mercenários caçavam
O Guerreiro e mais dez;
Fugiam, fugiam
Por planícies, florestas, montanhas
Mas não desistia o Guerreiro
No sexto ano,
Traiçoeira emboscada;
Sucumbiram, o Guerreiro e mais dez.
No castelo, Tirano e parasitas comemoravam:
"O Guerreiro morreu"!
Nada mais impedia o Tirano,
Ninguém mais o ameaçava;
Impostos esmagaram os homens,
Mendigaram os velhos,
Mulheres perderam sua honra,
Moças a virgindade,
Crianças eram escravizadas
No sétimo ano,
O Tirano caiu
Do alto da colina,
Em portentoso castelo,
Impávida fortaleza;
Gemia o povo,
Sob a sola de seus pés,
O casco de seus cavalos,
O retinir de suas armas;
Parasitas partilhavam de sua mesa
Uma voz se ergueu
O Guerreiro não aceitava mais.
Percorreu planícies, florestas, montanhas;
Do povo, um a um,
Tropa surgiu;
Pequena, frágil,
Ínfima como pulga,
Incômoda como pulga
No primeiro ano,
Atacaram o castelo;
Escadas e cordas contra muralhas,
Sangue e ferro
Contra pedra e covardia;
Muitos caíram,
Poucos escaparam
Mas não desistia o Guerreiro
No segundo ano,
Emboscaram o Tirano,
Que caçava nos pântanos do oeste;
Aos gritos, massacraram a comitiva;
Por pouco escapou o Tirano
Mas não desistia o Guerreiro
No terceiro ano,
Sitiaram o castelo;
Rumores percorreram a terra,
Esperança renascia,
O povo acreditava;
Gente, gente e mais gente
Vinha engrossar o cerco;
Vitória parecia iminente.
Mas chegou Inverno,
Traiçoeiro soldado.
Dentro e fora dos muros,
Ceifava a fome;
O povo debandou,
O cerco caiu.
Vencia o Tirano,
Mais uma vez
Mas não desistia o Guerreiro
No quarto ano,
Novo cerco;
A esperança sumira,
O povo temia,
O Inverno chegaria;
Esmagada a revolta,
Escaparam o Guerreiro e mais dez
Mas não desistia o Guerreiro
No quinto ano,
O Tirano perseguiu a esperança;
Seus mercenários caçavam
O Guerreiro e mais dez;
Fugiam, fugiam
Por planícies, florestas, montanhas
Mas não desistia o Guerreiro
No sexto ano,
Traiçoeira emboscada;
Sucumbiram, o Guerreiro e mais dez.
No castelo, Tirano e parasitas comemoravam:
"O Guerreiro morreu"!
Nada mais impedia o Tirano,
Ninguém mais o ameaçava;
Impostos esmagaram os homens,
Mendigaram os velhos,
Mulheres perderam sua honra,
Moças a virgindade,
Crianças eram escravizadas
No sétimo ano,
O Tirano caiu
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Cala
Cala, cala!
Não quero ouvir-te!
Basta!
Chega desse palanfrório,
Dessa verborragia oca,
Dessas razões irracionais,
Dessas desculpas cheias de saber,
Desse eterno pavonear,
Que não chegam a lugar nenhum!
Cala!
Não quero ouvir-te!
Basta!
Chega desse palanfrório,
Dessa verborragia oca,
Dessas razões irracionais,
Dessas desculpas cheias de saber,
Desse eterno pavonear,
Que não chegam a lugar nenhum!
Cala!
domingo, 29 de junho de 2014
Estrelas
Acima das sombras,
Acima da noite,
Acima do sangue,
Acima das brutalidades,
Acima dos crimes,
Acima das injustiças,
Acima das iniquidades
Acima de tudo,
Brilham,
Brilham sempre,
As estrelas do amanhã
Acima da noite,
Acima do sangue,
Acima das brutalidades,
Acima dos crimes,
Acima das injustiças,
Acima das iniquidades
Acima de tudo,
Brilham,
Brilham sempre,
As estrelas do amanhã
domingo, 16 de março de 2014
Corvo
Preto no branco,
Corvo invernal
No campo nevado
Sem ninho,
Sem pátria,
Bico gelado,
Barriga vazia
Pobre corvo!
Corvo invernal
No campo nevado
Sem ninho,
Sem pátria,
Bico gelado,
Barriga vazia
Pobre corvo!
Prisão
Celas escuras,
Gritos, correntes,
Choros, dentes,
Bolor, água, podridão
Abismo profundo,
Onde luz não chega,
Ar não entra,
De onde homem não sai
Gritos, correntes,
Choros, dentes,
Bolor, água, podridão
Abismo profundo,
Onde luz não chega,
Ar não entra,
De onde homem não sai
Gurindan
Senhor das selvas,
Mestre dos rios,
Amado por uns,
Por muitos temido
Mandava Gurindan
Guerreiro cruel,
Flecha certeira,
Braço forte,
Clava pesada
Mandava Gurindan
Colecionador de crânios,
Comedor de gente,
Caçador fera,
De homem e jaguar
Mandava Gurindan
Dono de canoas,
Dono de tributos,
Dono de esposas,
Dono de escravos
Mandava Gurindan
Mestre dos rios,
Amado por uns,
Por muitos temido
Mandava Gurindan
Guerreiro cruel,
Flecha certeira,
Braço forte,
Clava pesada
Mandava Gurindan
Colecionador de crânios,
Comedor de gente,
Caçador fera,
De homem e jaguar
Mandava Gurindan
Dono de canoas,
Dono de tributos,
Dono de esposas,
Dono de escravos
Mandava Gurindan
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