Dizem lendas
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis:
Enchem ares de fumaça,
Águas de veneno,
Terras de fezes assustadoras;
Pelos céus voam,
Cuspindo bolas de fogo;
Pela terra rastejam,
Derrubando árvores,
Exterminando animais,
Devorando uns aos outros;
Multiplicam-se, multiplicam-se,
Como vermes em cemitério,
Em coitos satânicos
Dizem lendas
Que por aí andam
Pavorosos monstros,
Bestas terríveis,
Com cabeça humana
E humano corpo
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
O Clube dos Barbudos
Pantótila era uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente levava uma vida tranquila e sem sobressaltos.
Um dos cidadãos de Pantótila se chamava Beroaldo, homem pacífico e inofensivo como seus vizinhos. Talvez pela monotonia da cidade, talvez por esquisitice de sua personalidade, ele cultivava uma longa barba; gastava longos minutos por dia cuidando de sua pelagem facial. Certo dia, teve uma ideia: por que não fundar um "Clube dos Barbudos"? Comunicou a ideia aos outros onze barbudos de Pantótila, que gostaram da ideia e passaram a realizar encontros semanais na residência de Beroaldo. Nas reuniões, tomavam café, comiam biscoitos e discutiam teorias, métodos e dilemas pertinentes ao peculiar cultivo a que se consagravam.
No entanto, a novidade deixou alarmada a boa gente de Pantótila, desacostumada de qualquer acontecimento, significativo ou insignificante. Rumores e temores começaram a correr. Que coisa estranha era aquela? O que aqueles homens pretendiam? Aquilo não era normal, não podia ser. Havia algum segredo obscuro, uma ameaça que se preparava. O Clube dos Barbudos era simples fachada para propósitos sinistros. Aquelas barbas, curtas ou compridas, repartidas ou trançadas, aparadas ou desgrenhadas deviam servir apenas como código para comunicações inconfessáveis. Aquelas reuniões eram um perigo para a civilização, a religião, a moral e os bons costumes.
Certa tarde, durante o encontro do Clube dos Barbudos, a turba enfurecida cercou a casa de Beroaldo. Obstruíram as portas com pesados bancos de madeira e atearam fogo. Beroaldo e seus amigos tentaram fugir, em vão: morreram todos no incêndio. Restaram apenas as cinzas da casa, sepultando os medonhos segredos daquela conspiração.
Pantótila voltava a ser uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente podia retomar sua vida tranquila e sem sobressaltos.
Um dos cidadãos de Pantótila se chamava Beroaldo, homem pacífico e inofensivo como seus vizinhos. Talvez pela monotonia da cidade, talvez por esquisitice de sua personalidade, ele cultivava uma longa barba; gastava longos minutos por dia cuidando de sua pelagem facial. Certo dia, teve uma ideia: por que não fundar um "Clube dos Barbudos"? Comunicou a ideia aos outros onze barbudos de Pantótila, que gostaram da ideia e passaram a realizar encontros semanais na residência de Beroaldo. Nas reuniões, tomavam café, comiam biscoitos e discutiam teorias, métodos e dilemas pertinentes ao peculiar cultivo a que se consagravam.
No entanto, a novidade deixou alarmada a boa gente de Pantótila, desacostumada de qualquer acontecimento, significativo ou insignificante. Rumores e temores começaram a correr. Que coisa estranha era aquela? O que aqueles homens pretendiam? Aquilo não era normal, não podia ser. Havia algum segredo obscuro, uma ameaça que se preparava. O Clube dos Barbudos era simples fachada para propósitos sinistros. Aquelas barbas, curtas ou compridas, repartidas ou trançadas, aparadas ou desgrenhadas deviam servir apenas como código para comunicações inconfessáveis. Aquelas reuniões eram um perigo para a civilização, a religião, a moral e os bons costumes.
Certa tarde, durante o encontro do Clube dos Barbudos, a turba enfurecida cercou a casa de Beroaldo. Obstruíram as portas com pesados bancos de madeira e atearam fogo. Beroaldo e seus amigos tentaram fugir, em vão: morreram todos no incêndio. Restaram apenas as cinzas da casa, sepultando os medonhos segredos daquela conspiração.
Pantótila voltava a ser uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente podia retomar sua vida tranquila e sem sobressaltos.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Boas notícias
Quase sem esperar,
Espero boas notícias,
Uma esperança qualquer,
Na sombra do desespero
Espero boas notícias,
Uma esperança qualquer,
Na sombra do desespero
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Alienação
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
Trabalhar,
Assinar ponto,
E sair...
Chegar,
domingo, 10 de agosto de 2014
Caminho
O caminho é longo,
Difícil a estrada,
Há pedras, espinhos,
Perigosa jornada
Passo a passo,
Segue o viajante,
Cansado prossegue,
Esforço constante
Vai o andarilho,
Atrás a História,
Vai o andarilho,
À frente a vitória
Difícil a estrada,
Há pedras, espinhos,
Perigosa jornada
Passo a passo,
Segue o viajante,
Cansado prossegue,
Esforço constante
Vai o andarilho,
Atrás a História,
Vai o andarilho,
À frente a vitória
Terra Prometida
Ali, logo ali,
Depois do mar,
Através do deserto,
Por cima dos montes,
Vejo a Terra Prometida
Vou com passos firmes,
Passos calmos, pacientes,
Suando sangue,
Sangrando lágrimas,
Vou com coragem, esperança,
Pois vejo a Terra Prometida
Depois do mar,
Através do deserto,
Por cima dos montes,
Vejo a Terra Prometida
Vou com passos firmes,
Passos calmos, pacientes,
Suando sangue,
Sangrando lágrimas,
Vou com coragem, esperança,
Pois vejo a Terra Prometida
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
O produto
Desenvolvemos o produto após longos meses de pesquisas de mercado, com público de variadas idades. Percebemos que existe uma demanda real pelo produto.
Ele é ao mesmo tempo útil, necessário, divertido, bonito, simples, luxuoso, viciante, sustentável, aparentemente revolucionário, mas profundamente conservador. E, principalmente, descartável. Todos vão querer consumi-lo. Até cansarem. Depois podemos oferecer outro similar, e então outro, sempre com investimentos e riscos progressivamente menores.
A estratégia de venda é simples: bombardeio midiático massivo, contínuo e constante. Quando o público espantar, não pensará mais em outra coisa. O produto habitará seus sonhos; estarão famintos por ele. Em pouco tempo será uma referência incontornável, ditando tendências e comportamentos. O consumidor médio mal saberá onde ele próprio termina e onde começa o produto.
Para as crianças, será uma babá, um ídolo, um herói e uma figura materna. Para os jovens, será um líder, um amigo e um modelo. Para as mulheres, será um filhote e um amante. Para os homens, um brinquedo, um objeto de desejo e um símbolo de virilidade.
Em suma, depois do produto, o mundo será completamente diferente, mas continuará exatamente o mesmo.
Ele é ao mesmo tempo útil, necessário, divertido, bonito, simples, luxuoso, viciante, sustentável, aparentemente revolucionário, mas profundamente conservador. E, principalmente, descartável. Todos vão querer consumi-lo. Até cansarem. Depois podemos oferecer outro similar, e então outro, sempre com investimentos e riscos progressivamente menores.
A estratégia de venda é simples: bombardeio midiático massivo, contínuo e constante. Quando o público espantar, não pensará mais em outra coisa. O produto habitará seus sonhos; estarão famintos por ele. Em pouco tempo será uma referência incontornável, ditando tendências e comportamentos. O consumidor médio mal saberá onde ele próprio termina e onde começa o produto.
Para as crianças, será uma babá, um ídolo, um herói e uma figura materna. Para os jovens, será um líder, um amigo e um modelo. Para as mulheres, será um filhote e um amante. Para os homens, um brinquedo, um objeto de desejo e um símbolo de virilidade.
Em suma, depois do produto, o mundo será completamente diferente, mas continuará exatamente o mesmo.
Epitáfios futuros
Jorge Abreu
Nasceu,
Cresceu,
Consumiu
E morreu
Prometeu da Silva
Bom filho,
Bom cidadão,
Preso político
Dilma Roussef
Primeiro vítima,
Depois algoz
Olímpio Serra
Pai exemplar
E cabo eleitoral.
Vote 6666!
Juvenil Juvenal
Trabalhava,
Trabalhava
E trabalhava.
Tão jovem...
Helena dos Santos
Sobreviveu até onde o salário mínimo permitiu.
Eduardo Paes
Não deixa saudades.
Eleutéria Joaquina
Quase viveu...
Eustáquio Silveira
Sem educação,
Sem emprego,
Sem eira,
Sem beira
Cláudia Costin
Economista dedicada
E demolidora educacional
Carla Faria
Prometia,
Não fazia
Cláudio Sobral
Empresário e imoral
Teresa de Jesus
Fosse mais curta a fila do SUS...
Antônio Pascoal
Analfabeto e intelectual
Nasceu,
Cresceu,
Consumiu
E morreu
Prometeu da Silva
Bom filho,
Bom cidadão,
Preso político
Dilma Roussef
Primeiro vítima,
Depois algoz
Olímpio Serra
Pai exemplar
E cabo eleitoral.
Vote 6666!
Juvenil Juvenal
Trabalhava,
Trabalhava
E trabalhava.
Tão jovem...
Helena dos Santos
Sobreviveu até onde o salário mínimo permitiu.
Eduardo Paes
Não deixa saudades.
Eleutéria Joaquina
Quase viveu...
Eustáquio Silveira
Sem educação,
Sem emprego,
Sem eira,
Sem beira
Cláudia Costin
Economista dedicada
E demolidora educacional
Carla Faria
Prometia,
Não fazia
Cláudio Sobral
Empresário e imoral
Teresa de Jesus
Fosse mais curta a fila do SUS...
Antônio Pascoal
Analfabeto e intelectual
Manhã
Fria noite,
Escura madrugada.
Livre e audaz,
Canta o galo:
Com tímidos raios,
O povo amanheceu.
Reticente hesita
Rosada manhã.
Fraca luz,
Longas sombras,
Ainda.
Apenas ainda.
Cedo,
Logo,
Hoje,
Brilhando ousado,
O povo será meio-dia
Escura madrugada.
Livre e audaz,
Canta o galo:
Com tímidos raios,
O povo amanheceu.
Reticente hesita
Rosada manhã.
Fraca luz,
Longas sombras,
Ainda.
Apenas ainda.
Cedo,
Logo,
Hoje,
Brilhando ousado,
O povo será meio-dia
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Tiranetes
Estranho mofo,
Triste praga,
Brotam tiranetes
Onde falta democracia
Brotam em casa,
Igreja e jornal,
Brotam em escola,
Empresa e hospital
Brotam em partido,
Delegacia e sinal
Estranho mofo,
Triste praga,
Murcham tiranetes
Onde sobra ousadia
Triste praga,
Brotam tiranetes
Onde falta democracia
Brotam em casa,
Igreja e jornal,
Brotam em escola,
Empresa e hospital
Brotam em partido,
Delegacia e sinal
Estranho mofo,
Triste praga,
Murcham tiranetes
Onde sobra ousadia
Bruxa
Num lugar sombrio, numa época sombria. Diante do povo bestializado, o juiz interrogava uma mulher.
-És bruxa?
-Tu o dizes.
-Envenenaste as águas?
-Tu o dizes.
-Queimaste os campos?
-Tu o dizes.
-Corrompeste a juventude?
-Tu o dizes.
-Queres perdão?
-Tu o dizes.
-Por provas contundentes e testemunhos inquestionáveis, condeno essa mulher a ser bruxa e a arder na fogueira.
-És bruxa?
-Tu o dizes.
-Envenenaste as águas?
-Tu o dizes.
-Queimaste os campos?
-Tu o dizes.
-Corrompeste a juventude?
-Tu o dizes.
-Queres perdão?
-Tu o dizes.
-Por provas contundentes e testemunhos inquestionáveis, condeno essa mulher a ser bruxa e a arder na fogueira.
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