domingo, 17 de setembro de 2017

The modern warrior ballad

Nuke them all!
Nuke the whales!
Nuke the men!
Nuke the dogs!
Nuke the women!
Nuke the kids!
Nuke the trees!
Nuke the terrorists!
Nuke the pacifists!
Nuke the State!
Nuke the Market!
Nuke the Banks!
Nuke the Church!
Nuke the Police!
Nuke the Army!
Nuke the Navy!
Nuke the factories!
Nuke the farms!
Nuke the people!
Nuke the sun!
Nuke the moon!
Nuke them all!

sábado, 21 de janeiro de 2017

O Peregrino do Mar

Dizem que o texto abaixo foi encontrado muitos séculos atrás numa praia distante, dentro de uma garrafa. O manuscrito original foi perdido há muito tempo, e tudo que resta é essa transcrição fiel copiada no Livro de Maravilhas do Reino:

"Rezava a antiga lenda que numa ilha muito distante era possível sentir a presença de Deus a todo momento. Era conhecida como Ilha Prometida. Muitos sonhavam visitá-la, mas ninguém conhecia o caminho.

Eu ainda era criança quando ouvi essa lenda pela primeira vez, e me senti imediatamente encantado por ela. Como desejava conhecer aquela ilha! Conforme eu crescia, o desejo aumentava, e meu coração estava repleto dele. Assim aconteceu com muitas pessoas de minha geração, que sucumbiram ao encanto da lenda e sonhavam dia e noite com a busca da Ilha Prometida.

Certo dia, não se sabe bem por que, o Rei decidiu organizar uma grande expedição naval para encontrar a Ilha. Logo surgiram centenas de voluntários, e o monarca ordenou a construção de cinco grandes navios, capazes de enfrentar ondas violentas e tempestades furiosas. As árvores mais fortes do Reino foram abatidas e os melhores carpinteiros foram contratados. Velas e cordas muito resistentes foram adquiridas.Muitos caixotes e barris de mantimentos foram encomendados. Durante um ano o Reino inteiro se agitou.

Finalmente, os cinco navios estavam prontos e ancorados na Grande Baía. Todos os peregrinos voluntários vieram até a Corte e houve uma grande e solene festividade de despedida na Praça Maior, presidida pelo próprio Rei. Nessa ocasião, muitos aventureiros fizeram o juramento solene de não voltar ao lar enquanto não tivessem encontrado a Ilha Prometida. Depois da cerimônia, todos os viajantes embarcaram sob a ovação popular.

Meu coração batia forte quando pus os pés sobre o convés do Pensamento. Levantadas as âncoras, as velas foram sopradas por um vento impetuoso e todos os passageiros entoavam cânticos de júbilo pela viagem que começava. As nuvens sorriam alegremente para nós.

As primeiras semanas de viagem transcorreram em grande alegria, e todos esperavam que logo chegaríamos à Ilha Prometida, onde viveríamos continuamente na presença de Deus. Todavia, conforme se passavam os meses, muitos viajantes se tornaram tristes e entediados, e sentiam falta da terra firme. O Almirante reuniu seus capitães e decidiram que um dos navios retornaria para casa, levando todos aqueles que desejassem voltar. E assim, muitos iniciaram a viagem de volta, enquanto quatro navios prosseguiam.

Mais alguns meses de navegação haviam transcorrido quando uma violentíssima tempestade se abateu sobre a esquadra. A tormenta durou vários dias e, finalmente, um dos navios naufragou. Alguns homens morreram, mas conseguimos resgatar a maioria. E assim sobraram apenas três navios. Muitos haviam ficado assustados com a tempestade, e passaram a temer por suas vidas; não queriam continuar. E assim, o Almirante ordenou o retorno de mais uma embarcação, onde puderam voltar aqueles que assim o quisessem.

Sobraram apenas dois navios, e prosseguiram juntos por muitos meses ainda, até que houve uma desesperadora calmaria. Durante várias semanas os navios mal se moviam, e o ar parecia morto. Muitos peregrinos foram tomados pelo desânimo. Assim que se iniciou um forte vento para Leste, desejaram voltar para casa, e o Almirante determinou que uma embarcação os levasse.

No fim, restou apenas um navio, com escassos tripulantes. Navegamos ainda durante muitos e muitos meses, enfrentando calmarias e tempestades. Finalmente, os mantimentos começaram a se esgotar, e o Almirante ordenou um rígido racionamento. Os peregrinos aceitaram bravamente essa privação, até que o Almirante julgou que não seria mais prudente prosseguir a viagem, determinando o retorno. Todos estavam tristes com essa decisão, principalmente o próprio Almirante.

Foi então que decidi que eu prosseguiria sozinho. Até o fim. Conversei com o Almirante, e ele me disse que seria uma atitude imprudente. Me alertou que se não encontrasse a Ilha Prometida seria impossível retornar ao Reino; a morte seria certa. Insisti mesmo assim. Finalmente ele cedeu, e um batel me foi cedido, com uma generosa porção de mantimentos, num grande baú. Agradeci aos companheiros por essa última gentileza e me fiz ao mar, enquanto eles acenavam tristemente. Uma grande solidão me tomou quando o Pensamento finalmente desapareceu no horizonte, rumo ao Leste. Para mim, só restava o Desconhecido Oeste.

Um vento firme soprava sempre e sempre minhas velas, e durante muitas horas por dia eu também remava, esperançoso. Só comia uma vez por dia, e tão pouco que me sentia constantemente faminto. Fui ficando cada vez mais fraco. Os remos se tornavam cada vez mais pesados em minhas mãos. Apenas o desejo profundo de ver a Ilha Prometida me dava forças para prosseguir. Só me restavam o sucesso ou a morte.

Certa noite, uma forte ventania arrebentou os cabos e levou a vela voando para longe de mim. Ainda me atirei ao mar para tentar recuperá-la a nado, mas não foi possível. Retornei molhado e triste ao batel, enquanto o vento congelava meus ossos. A partir da manhã seguinte encontrei novas forças para remar, e prosseguia bravamente, sob o Sol escaldante do meio-dia e a brisa suave da noite.

A cada dia sobrava um pouco menos de meus mantimentos. O baú estava quase vazio e me restavam umas poucas garrafas d'água. Comia apenas a cada dois dias, porções cada vez menores; bebia uns poucos goles d'água por dia. Finalmente, a comida acabou, e a água logo depois. Ainda assim, prosseguia remando, no limite das minhas forças. Era tudo que me restava.

Ao cabo de alguns dias, nada mais era possível. Mal conseguia permanecer sentado. Passava a maior parte das horas deitado no fundo do barco, dormindo ou contemplando as nuvens ensolaradas ou o céu estrelado. Perdi toda noção do tempo.

Em certa noite enluarada e sem nuvens o mar estava muito agitado. O batel subia e descia nas ondas enfurecidas. Eu me agarrava aos bancos com todas minhas forças, mas uma violenta vaga atirou o barco ao vazio. Na água sombria eu não sabia para qual lado estava o céu ou o fundo do mar. Lutei custosamente para retornar à superfície, e olhei para todos os lados. Quando não consegui avistar o batel em lugar nenhum, copiosas lágrimas brotaram de meus olhos. Estava perdido.

Com as forças que me sobravam, cheio de aflição, tentava permanecer flutuando no mar revolto. Em muitos momentos, coberto pelas ondas, achei que chegara meu fim. Permaneci assim durante algumas horas, até que avistei um pequeno ponto escuro entre as vagas. Tomado por uma vaga esperança, comecei a nadar com muito esforço em sua direção. O movimento do mar às vezes afastava de mim aquele pontinho, mas eu prosseguia firme. Não podia perder minha esperança de uma esperança.

Quando finalmente alcancei aquele pontinho, descobri que era o baú vazio de mantimentos, que flutuava. Me agarrei a ele fervorosamente, derramando lágrimas de alegria e gratidão. Aquele baú vazio valia mais que todos os tesouros do mundo. Mais tarde encontrei um pedaço de corda que flutuava; passei-a por baixo de meus braços e amarrei ao baú.

Não sei quantos dias e noites passei amarrado àquele baú. Logo mergulhei num sono profundo e sem sonhos, que não sei quanto tempo durou.

Acordei sentindo a areia em meu rosto. Estava estirado ao chão. A Lua refletia estranhamente naqueles grãos de areia molhada. Parecia que eu flutuava no céu. Com algum esforço, me desamarrei do baú e me pus de pé, cambaleante. A sede me torturava. Uma sede que ia ao fundo da alma. Abri o baú salvador e tirei uma das garrafas vazias. Saí em busca de água, aos tropeções.

Não muito longe da praia encontrei a Fonte. A água era fresca e viva, como nenhuma outra água desse mundo. Alguns goles foram suficientes para matar minha sede e encher meu coração de alegria. Todos aqueles sofrimentos valeram a pena.

Assim terminaram minhas peregrinações e começaram minhas venturas.

Seriam necessárias muitas outras cartas para descrever todas as maravilhas dessa Ilha Prometida. De nada adiantariam todas essas cartas, na verdade, pois essas maravilhas não se explicam com palavras. O único modo de conhecê-las é enfrentando o mar perigoso e vindo até aqui. Essa mensagem na garrafa é um convite, apenas um convite.

Vem.