Era um tempo estranho, num país distante, com uma democracia de faz-de-conta. Tiranos e tiranetes ocupavam o poder, a serviço de empresários, com o apoio de empresários.
O povo, cansado, angustiado e desesperado se rebelou. Levantes estouravam aqui e ali, de norte a sul. Bárbaros-vândalos ameaçavam as muralhas da civilização bem-nascida e mal-eleita.
Era preciso encontrar um culpado, era necessário inventar líderes. Quem? A culpa era dos professores. De História. De Filosofia. Gente inquieta, gente perigosa. Uma lacaia ignorante e entusiasmada gritou: "Cuide do seu filho, antes que um professor de História ou Filosofia o adote". Outros lacaios, igualmente servis e dementes concordaram. Era melhor, para bem da democracia, que ninguém mais aprendesse História, nem Filosofia. E assim, os historiadores e filósofos foram perseguidos, presos e executados. Seus livros foram queimados em praça pública. Comemoraram com imenso Carnaval. Problema resolvido.
Mas o povinho, teimoso, continuava revoltado. Os tiranos não entendiam! O povo tinha tudo que poderia sonhar: futebol, sexo, novela, cartão de crédito, cerveja. Não era possível que estivessem descontentes. Havia líderes, havia culpados: professores, de novo. De Geografia, Artes Visuais, Física, Música, Inglês, Espanhol, Sociologia, Educação Física, Biologia, Química. Foram todos devidamente eliminados, como cães raivosos. O currículo escolar foi limitado ao essencial: Português e Matemática. As crianças e jovens tinham aulas apenas duas vezes por semana. As escolas se encheram de um silêncio escuro e mortiço.
Mas o povo não se aquietava. Até Português Matemática eram demais. Os jovens ainda eram mais ou menos capazes de interpretar textos: inadmissível! E então, os últimos professores morreram. As escolas agora funcionavam apenas com televisores, computadores e apostilas, de conteúdo pacificado e inofensivo, reforçado por exercícios monótonos e repetitivos. As salas de aula suspiravam com o alívio sombrio e o contentamento obtuso que apenas a Educação da pior qualidade garante.
Os tiranos finalmente dormiram aliviados.
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