Pantótila era uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente levava uma vida tranquila e sem sobressaltos.
Um dos cidadãos de Pantótila se chamava Beroaldo, homem pacífico e inofensivo como seus vizinhos. Talvez pela monotonia da cidade, talvez por esquisitice de sua personalidade, ele cultivava uma longa barba; gastava longos minutos por dia cuidando de sua pelagem facial. Certo dia, teve uma ideia: por que não fundar um "Clube dos Barbudos"? Comunicou a ideia aos outros onze barbudos de Pantótila, que gostaram da ideia e passaram a realizar encontros semanais na residência de Beroaldo. Nas reuniões, tomavam café, comiam biscoitos e discutiam teorias, métodos e dilemas pertinentes ao peculiar cultivo a que se consagravam.
No entanto, a novidade deixou alarmada a boa gente de Pantótila, desacostumada de qualquer acontecimento, significativo ou insignificante. Rumores e temores começaram a correr. Que coisa estranha era aquela? O que aqueles homens pretendiam? Aquilo não era normal, não podia ser. Havia algum segredo obscuro, uma ameaça que se preparava. O Clube dos Barbudos era simples fachada para propósitos sinistros. Aquelas barbas, curtas ou compridas, repartidas ou trançadas, aparadas ou desgrenhadas deviam servir apenas como código para comunicações inconfessáveis. Aquelas reuniões eram um perigo para a civilização, a religião, a moral e os bons costumes.
Certa tarde, durante o encontro do Clube dos Barbudos, a turba enfurecida cercou a casa de Beroaldo. Obstruíram as portas com pesados bancos de madeira e atearam fogo. Beroaldo e seus amigos tentaram fugir, em vão: morreram todos no incêndio. Restaram apenas as cinzas da casa, sepultando os medonhos segredos daquela conspiração.
Pantótila voltava a ser uma cidade pequena e pacata. Sua boa gente podia retomar sua vida tranquila e sem sobressaltos.
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