Tauridis era um jovem xeique da tribo de Murá. Sua herança era pequena, mas sua coragem e audácia eram inigualáveis, e o Criador lhe havia escrito grandes destinos.
Aos 25 anos, Tauridis já era um guerreiro experiente e célebre por seus feitos a serviço do bom califa Ibian. Foi nessa época que ele concebeu o audacioso plano de conquistar o rico reino de Nogar. Todos riram dele, mas o xeique foi até a corte, e o sábio califa concedeu bênção e permissão aos seus projetos, pois conhecia e reconhecia sua bravura e sua astúcia.
Desde então Tauridis pôs-se a organizar sua expedição. Ele vendeu tudo que possuía, exceto seus cavalos e suas armas e fez-se à estrada, acompanhado de seus fiéis servidores. Durante três anos o xeique percorreu o deserto empoeirado, visitando inúmeras aldeias e convocando todos os jovens valentes que desejassem integrar sua expedição, e muitos se entusiasmaram e aceitaram o convite.
Dizem que a essa altura seus planos chegaram aos ouvidos do Marquês de Gaulian, que residia na fronteira oriental do reino de Nogar. Gaulian teria alertado o rei Ruderax, mas o monarca era preguiçoso e arrogante, e não quis acreditar em suas suspeitas, dizendo que ninguém seria tolo para enfrentar o poderio dos nogarin e somente um louco pensaria em conquistar reino tão forte.
Tauridis não era tolo, nem louco, mas tinha fé no Criador. E assim, na época marcada cerca de mil homens se reuniram no oásis de Al Fatach, conforme combinado. Cada guerreiro trazia seu próprio cavalo, e o xeique utilizara toda sua fortuna organizando uma caravana com 200 camelos, que levava mantimentos para a longa campanha.
Durante 12 dias marcharam pelo deserto, até chegar ao Forte de Murrakin, na fronteira de Nogar. O precavido Marquês de Gaulian estava lá, pronto para o ataque, mas sua guarnição era pequena e não resistiu ao impetuoso assalto do xeique Tauridis. A maioria dos nogarin morreu no ataque, menos um mensageiro que escapou.
Quando o mensageiro chegou à corte, em Tulad, o rei Ruderax percebeu seu erro; convocou suas tropas às pressas e correu em direção ao leste com os poucos soldados que tinha de prontidão.
Ruderax e Tauridis se encontraram na margem oriental do Gulavar. Era meio-dia quando as tropas se chocaram. As forças do xeique eram menos numerosas, mas superavam os nogarin em bravura. Até o fim da tarde a batalha parecia favorável às armas de Nogar, mas repentinamente Ruderax foi cercado e morto. A notícia de sua queda correu entre os nogarin, deixando-os desorientados. O astuto Tauridis não hesitou diante da oportunidade, e sua cavalaria avançou com tal violência que destroçaram o inimigo. Os poucos sobreviventes atravessaram o Gulavar, levando notícias desencontradas, e muitos se afogaram na travessia.
Tauridis se apressou com suas tropas, e em 7 dias chegaram às portas de Tulad, que se encontrava praticamente indefesa, pois a maioria dos exércitos nogarin ainda estava a caminho do leste, enquanto outros, recebendo notícia da queda de Ruderax, se demoravam indecisos pelo caminho.
Após a vitória, Tauridis deixou uma guarnição de 200 homens em Tulad, e partiu com o restante de suas tropas de volta para o leste, cercando as forças nogarin remanescentes e derrotando-as em rápidos ataques, usando de surpresa. Em menos de dois meses a maioria dos exércitos nogarin se rendera e entregara suas armas, e Tauridis assegurou o domínio da porção oriental de Nogar.
Nesse ínterim, o sagaz xeique enviara um mensageiro até o califa comunicando suas vitórias, e o prudente Ibian enviou reforços a Tauridis.
Vendo o grosso das tropas de nogar rendido e desarmado nas terras do leste, Tauridis selecionou 250 de seus melhores homens e avançou para o oeste, onde haviam ficado pouquíssimos soldados após a convocação de Ruderax. A conquista das terras ocidentais foi tranquila, pois em cada castelo, aldeia ou cidade as fracas guarnições se rendiam sem resistência. Assim, em poucos meses o bravo Tauridis realizou uma conquista de muitas vidas.
O xeique Tauridis tratou então de manter suas tropas em movimento pelo reino, garantindo a paz e a obediência. No inverno chegaram cerca de dois mil homens do califado e Tauridis reforçou suas tropas e designou guarnições fixas para as principais fortalezas de Nogar. Na primavera, vendo que a conquista estava bem guardada, Tauridis retornou até o califa, entregando-lhe a posse das terras de Nogar e fazendo juramento de vassalagem. E o honrado Ibian abençoou seu gesto e lhe outorgou o governo dos nogarin, com todos os seus encargos e privilégios.
Tendo assegurado a justa e legítima posse de Nogar junto à sagrada autoridade do califa, Tauridis retornou a Tulad, e no verão convocou todos os nobres nogarin até a corte, onde prestaram juramento de obediência, e o bom xeique lhes garantiu que seus direitos seriam assegurados e que podiam continuar em sua fé sem quaisquer impedimentos.
Mas alguns fidalgos eram homens sem palavra e traíram seu juramento, reunindo-se ao pérfido Duque Pilgir nas montanhas de Ustari, onde permaneceram em rebelião contra o xeique; de todo modo, durante muitos anos os rebeldes permaneceram em silêncio e não incomodavam a paz no reino.
As notícias sobre a riqueza e fertilidade das terras de Nogar circulavam pelo califado, e todos os anos muitas famílias migravam para lá, aumentando a prosperidade do reino e fortalecendo o domínio do xeique.
E assim, Tauridis permaneceu à frente do reino por mais trinta anos, quando morreu, deixando o trono para seu filho Ilbarak, iniciando uma dinastia que durou muitas gerações.
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