quinta-feira, 31 de março de 2011

Vácuo

Quero ser ex-BBB,
E aparecer na TV,
Posar na Playboy ou na G

Vivo antenado ao mundo,
Sei tudo que se passa,
Leio Caras e Quem
Vejo as novelas e o Jornal,
Claro, Nacional!

Votei no Tiririca,
No Bebeto ou no Romário
E, é claro, votei pro paredão:
Não me omito, não!

Meus ídolos cantam Axé,
Funk e muito Pagode,
Em minha festa,
Outra música não pode

Sou cidadão,
Tenho direitos,
Sendo o maior,
A informação...

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Canibal

Chegou no escritório
Sentou-se à mesa
Pediu café,
Seu Armani ajeitou,
E discreto, peidou

Café tomado, lê:
Relatórios,
Balanços,
Memorandos,
Papelada de sempre

Parou
Pensou
Pensou mais um pouquinho

E fez,
Decidiu e fez!

Pegou ipad,
Escreveu pro RH;
"Menos cinquenta funcionários...
Ótimo!"

Com um e-mail,
Comeu a carne,
Bebeu o sangue,
Roeu os osssos,
De cinquenta famílias

terça-feira, 29 de março de 2011

Auto-arqueologia

Sou sítio arqueológico vital,
Com estratigrafia individual,
Sob camadas de tempo e cotidiano,
Muitos mundos,
Muitos eus...

Artefatos lembrados,
Sentimentos fossilizados,
Ocasiões bem conservadas,
Pessoas que só deixaram vestígios...

Quanto esforço e alegria,
Quanto método, quanta dor,
Medo e satisfação,
Demandaria tal escavação?

segunda-feira, 28 de março de 2011

O Músico

Sentou-se à beira do cais
Instrumento na mão,
Pôs-se a tocar;
A música espalhou-se pelo ar...

Dançaram as ondas,
Aos singelos acordes;
Os peixes dormiam,
Embalados no mar

Passavam devagar,
Os barcos, ao longe,
Apenas para escutar

Animadas gaivotas,
Em roda bailavam, a cantar;
Cabeleira escaldante sacudia
O Sol a rodar

Empolgadas nuvens trovejaram,
Derramando dilúvio,
E a Lua veio ver curiosa,
Jogando o Sol sobre o mar

A terra tremia,
Estrelas caíam;
O mundo acabava,
Allegro trovejando

Cansado o músico,
Instrumento calou

Tudo ficou no lugar

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quando a Guanabara era francesa...

Quando a Guanabara era francesa...
Ah!

Havia de tudo aqui,
Milhares de índios tupi,
Papagaio, arara, sagui,
Jaca, banana, abacaxi...

Havia uma cavaleiro de Malta,
Villegagnon chamado,
Guerreiro forte,
Hábil cruzado

Havia um forte,
Tão forte como não há,
Canhões e colonos,
Em Coligny

De todos os tipos,
Havia franceses:
Bandidos, operários,
Libertinos, religiosos,
Nobres e plebeus

Em religião,
Havia de tudo,
Thevet franciscano
E Richer pastor...

Mas entendimento...
Não!

Mais tout a changé

Fiers portugais,
Avec armes, épées,
Térribles soldats,
En bateaux arrivés

Feux,
Fumées,
Sang,
Canons,
Épées,
Térribles mêlées

À la fin,
Là, li,
Saint Sébastien,
Et plus de Coligny!

Quando a Guanabara era francesa...
Ah!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Quando o Rio era francês...


Mapa de Guillaume Le Testu onde a costa oriental da América do Sul (leia-se: Brasil) é representada sob o estandarte francês e retrato do cavaleiro de Malta Nicolas Durand de Villegagnon, chefe da colônia conhecida como França Antártica.

terça-feira, 15 de março de 2011

Cygnus

Gracioso
Voa o cisne,
Sobre o pico nevado

Volteia elegante,
Pousa no lago

Branco acima
Reflete o céu,
Reflete a água
Branco abaixo

Neve nuvem,
Montanha lago,
Canta o cisne...

No céu gelado,
No lago gelado,
No mundo gelado,
Morre o cisne,
Gracioso

domingo, 13 de março de 2011

Aforismos tavarianos

O riso pode ser mais violento que o tapa.

Draco dormiens

Dragão nas trevas,
Dorme, sonha
No ventre da terra,
Caverna profunda

Olhos fechados,
Roncando troveja,
Se vira, aconchega,
Resmunga e sorri


Livre no céu,
Em seu sonho voa
Entre brancas nuvens,
No macio azul

Vento sente,
Gira e rodopia,
Mergulha e decola,
Livre, livre, livre!

Avista o alvo;
Embica, mergulha,
Veloz, invencível,
Ataca e abocanha

Ah, carne fresca,
Sangue quente!
O ventre empapuça,
Em morno prazer

Gordo e roliço,
Era um padre,
De macia carne,
De tanto rezar

Amém!
Grunhe a fera;
Rosna e decola,
Sorriso na fuça

Voa mais!

Mais contente,
Mais alto,
Mais acima,
Mais além...

Na alta montanha,
Estranho castelo
"Toca de homem..."
Pensa a besta

"Quero ver!"
Curioso e valente,
A bizarra caverna
Deseja entender

Voa perto,
Voa baixo,
Arisco, se arrisca,
Só para olhar

De repente...
Medo!
Pânico!
Pavor!

Certeiras, selvagens
As setas disparam
Homens armados,
Arqueiros valentes

Escama se rompe
E sangue jorra;
Fraqueja a fera,
Da altura cai

No chão se espatifa,
Com ruído e estrondo
Quebra a pata,
Não levanta mais

Homens... mais!
Cercam, espetam,
Com lança e espada:
Dor, dor, dor...

O olho se fecha,
Chora o dragão,
Urra sofrendo,
Agonia e terror

Se mexe, baba, acorda...

Nada de homem,
Espada, flecha ou lança...
Apenas a caverna,
E restos da janta!

Se ajeita, aconchega, dorme outra vez...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Flagelorum mundi

Ignorância voluntária,
Superficialidade ansiada,
Ídolos ocos,
Best-sellers nas estantes,
Museus vazios...

Meu pesadelo,
Meu mundo...