domingo, 13 de março de 2011

Draco dormiens

Dragão nas trevas,
Dorme, sonha
No ventre da terra,
Caverna profunda

Olhos fechados,
Roncando troveja,
Se vira, aconchega,
Resmunga e sorri


Livre no céu,
Em seu sonho voa
Entre brancas nuvens,
No macio azul

Vento sente,
Gira e rodopia,
Mergulha e decola,
Livre, livre, livre!

Avista o alvo;
Embica, mergulha,
Veloz, invencível,
Ataca e abocanha

Ah, carne fresca,
Sangue quente!
O ventre empapuça,
Em morno prazer

Gordo e roliço,
Era um padre,
De macia carne,
De tanto rezar

Amém!
Grunhe a fera;
Rosna e decola,
Sorriso na fuça

Voa mais!

Mais contente,
Mais alto,
Mais acima,
Mais além...

Na alta montanha,
Estranho castelo
"Toca de homem..."
Pensa a besta

"Quero ver!"
Curioso e valente,
A bizarra caverna
Deseja entender

Voa perto,
Voa baixo,
Arisco, se arrisca,
Só para olhar

De repente...
Medo!
Pânico!
Pavor!

Certeiras, selvagens
As setas disparam
Homens armados,
Arqueiros valentes

Escama se rompe
E sangue jorra;
Fraqueja a fera,
Da altura cai

No chão se espatifa,
Com ruído e estrondo
Quebra a pata,
Não levanta mais

Homens... mais!
Cercam, espetam,
Com lança e espada:
Dor, dor, dor...

O olho se fecha,
Chora o dragão,
Urra sofrendo,
Agonia e terror

Se mexe, baba, acorda...

Nada de homem,
Espada, flecha ou lança...
Apenas a caverna,
E restos da janta!

Se ajeita, aconchega, dorme outra vez...

Nenhum comentário: