Vai à luta,
Segue o cruzado,
Sob sol, chuva,
Lava o seu pecado
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
Elmo à cabeça,
Escudo ao braço,
Espada na mão,
Luta, luta, luta
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
Seco é o deserto,
Quente o dia,
Fria a noite,
Escura a morte
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
"Jerusalém! Jerusalém!"
Grita a horda
O inimigo avança,
Em riste a lança!
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
Cruz e Crescente,
Oriente e Ocidente
Com tristes espadas
Se chocam
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
Retine a armadura,
Rompe-se a malha...
Em rubra mancha na areia,
Morre o cruzado...
Longa viagem,
Indizível batalha,
Impossível vitória...
Nada importa!
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
O império do palhaço
Com cruento riso ele reinava,
Diabo disfarçado de palhaço,
Um tirano bonachão...
Alma perversa,
Simpatia fingida,
Frio deboche,
Dissimulado sarcasmo,
Ele dominava,
Controlava,
Espremia,
Pressionava
O riso é arma,
Tortura,
Humilha,
Esmaga,
Aprisiona
É navalha,
É bala,
É fogo,
Só os tolos não percebem
Mas teu dia chegará, palhaço,
Sobre tua comédia caindo a cortina,
Sob vaias de teu público...
Teus escravos...
Diabo disfarçado de palhaço,
Um tirano bonachão...
Alma perversa,
Simpatia fingida,
Frio deboche,
Dissimulado sarcasmo,
Ele dominava,
Controlava,
Espremia,
Pressionava
O riso é arma,
Tortura,
Humilha,
Esmaga,
Aprisiona
É navalha,
É bala,
É fogo,
Só os tolos não percebem
Mas teu dia chegará, palhaço,
Sobre tua comédia caindo a cortina,
Sob vaias de teu público...
Teus escravos...
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
A Torre
Poderoso senhor,
Samael mandava
Terras tinha,
Soldados tinha,
Servos tinha,
Moinhos tinha,
Ouro tinha,
Esposas tinha,
Sede tinha
Sede de saber
Sede de conhecer
Sede de ver
Sua ignorância torturava
Sua cegueira torturava
Queria saber,
Saber mais
Chamou sábios,
Chamou místicos,
Chamou viajantes
Ouvia,
Perguntava,
Aprendia mais, mais, mais!
Nunca era bastante
Os véus do universo ainda eram espessos
Queria ir além
Romper barreiras,
Segurar o fluxo do tempo, do espaço
Em seus dedos crispados
Agarrar o coração do cosmo,
Em suas mãos febris
Sonhou uma Torre
Uma Torre tão grande quanto o céu,
Alta como as nuvens
Veria longe,
Penetraria os segredos,
Seria o mestre
Iniciou as obras
Pesadas pedras vinham de longe
Arquitetos vinham do Levante e do Poente
Escravos, servos e soldados moviam-se como um rio
Nenhum braço foi poupado,
Nenhum pensamento foi esquecido
A Torre subia,
Subia,
E subia
Ultrapassou os minaretes,
As montanhas,
O vôo dos falcões,
As nuvens,
Chegou às estrelas
Samael consumiu fortuna,
Saúde,
Anos
A Torre estava pronta
Samael, febril, subiu os degraus
Penosamente escalou centenas, milhares de andares
Uma ascensão longa, solitária, dolorosa
Chegou ao parapeito
Debruçou-se,
Ávido, sedento, insano
Seus olhos percorriam o vazio
Queria ver!
Queria saber!
Queria conhecer!
Nada!
Olhou para baixo:
Via homens, casas, rios, montanhas,
Todo um Mundo,
Pequenino,
Como miniaturas,
Como formigas
Olhou para cima
Nada!
Apertou os olhos
Nada!
Esticou-se na ponta dos pés
Nada!
Seus olhos eram fracos
Sua mente era frágil
Não entendia os espaços que enxergava!
Queria ver a mão de Deus,
Não enxergava nada!
Ora, nada existe acima, então?!
Toda essa Torre, todo esse esforço, para nada?
Olhou para baixo novamente:
Rios, campos, homens, cidades...
"É só isso, então!"
Sorriu mesquinho Samael
"É só isso, então, nada além!
Nada além!
Sou senhor de tudo isso,
Entendo Tudo, Tudo!"
Riu Samael, insano
No alto, lá no alto,
Alguém sorria complacente
Os anjos viam e pensavam
No pobre Samael...
Era mísera formiga,
Sua Torre, mísero formigueiro...
Samael mandava
Terras tinha,
Soldados tinha,
Servos tinha,
Moinhos tinha,
Ouro tinha,
Esposas tinha,
Sede tinha
Sede de saber
Sede de conhecer
Sede de ver
Sua ignorância torturava
Sua cegueira torturava
Queria saber,
Saber mais
Chamou sábios,
Chamou místicos,
Chamou viajantes
Ouvia,
Perguntava,
Aprendia mais, mais, mais!
Nunca era bastante
Os véus do universo ainda eram espessos
Queria ir além
Romper barreiras,
Segurar o fluxo do tempo, do espaço
Em seus dedos crispados
Agarrar o coração do cosmo,
Em suas mãos febris
Sonhou uma Torre
Uma Torre tão grande quanto o céu,
Alta como as nuvens
Veria longe,
Penetraria os segredos,
Seria o mestre
Iniciou as obras
Pesadas pedras vinham de longe
Arquitetos vinham do Levante e do Poente
Escravos, servos e soldados moviam-se como um rio
Nenhum braço foi poupado,
Nenhum pensamento foi esquecido
A Torre subia,
Subia,
E subia
Ultrapassou os minaretes,
As montanhas,
O vôo dos falcões,
As nuvens,
Chegou às estrelas
Samael consumiu fortuna,
Saúde,
Anos
A Torre estava pronta
Samael, febril, subiu os degraus
Penosamente escalou centenas, milhares de andares
Uma ascensão longa, solitária, dolorosa
Chegou ao parapeito
Debruçou-se,
Ávido, sedento, insano
Seus olhos percorriam o vazio
Queria ver!
Queria saber!
Queria conhecer!
Nada!
Olhou para baixo:
Via homens, casas, rios, montanhas,
Todo um Mundo,
Pequenino,
Como miniaturas,
Como formigas
Olhou para cima
Nada!
Apertou os olhos
Nada!
Esticou-se na ponta dos pés
Nada!
Seus olhos eram fracos
Sua mente era frágil
Não entendia os espaços que enxergava!
Queria ver a mão de Deus,
Não enxergava nada!
Ora, nada existe acima, então?!
Toda essa Torre, todo esse esforço, para nada?
Olhou para baixo novamente:
Rios, campos, homens, cidades...
"É só isso, então!"
Sorriu mesquinho Samael
"É só isso, então, nada além!
Nada além!
Sou senhor de tudo isso,
Entendo Tudo, Tudo!"
Riu Samael, insano
No alto, lá no alto,
Alguém sorria complacente
Os anjos viam e pensavam
No pobre Samael...
Era mísera formiga,
Sua Torre, mísero formigueiro...
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
O gigante
Seu coração era enorme
Corria em suas veias Amor
Com mãos enormes
Cavava canais,
Abria caminhos,
Achanava terrenos
Derrubava montanhas;
Tudo em benefício dos pequenos homens,
Frágeis homens
E eram gratos
Cantavam, festejavam, louvavam
As crianças brincavam,
Subiam, desciam, pulavam
Em suas mãos enormes
As mulheres faziam quitutes
Para seu titânico apetite
Em cada aldeia, em cada burgo,
Em cada província, em cada reino
A chegada do amigo era comemorada
Humilde, agradecia,
Mas de nada precisava...
Nem exigia!
Desinteressado seguia,
Ajudando os homens,
Compadecido da pequenez
Passou o tempo;
Geniais e geniosos,
Os homens inventaram,
Inventaram muito:
Máquinas de paz,
Máquinas de guerra
Dispensavam o gigante
Era desnecessário
Sua pujança, ah!
Lembrava-lhes sua fraqueza
O amigo incomodava,
Contrastante testemunho
Da fragilidade humana
Ao bondoso titã
Guerra declarou-se
Seu grande coração,
De tristeza se encheu
Com tanques-formiga,
Aviões-mosquito,
Petardos-ferrão,
Tentavam ferir a montanha
Apenas caminhava
O benfeitor,
Evitando o pisão
Em algum minúsculo
Sumiu
Não visitava aldeias,
Não aparecia em burgos,
Não o viam as províncias,
Esqueceram-no os reinos
Seguiram os homens,
Sua vidinha de baratas
Mas não viam...
Não sabiam...
À noite...
Quando todos dormiam...
Silencioso...
Sorrateiro...
Lá estava ele...
Cavando canais...
Abrindo caminhos...
Achanando terrenos...
Derrubando montanhas...
Tudo em benefício dos pequenos homens,
Mesquinhos homens...
Corria em suas veias Amor
Com mãos enormes
Cavava canais,
Abria caminhos,
Achanava terrenos
Derrubava montanhas;
Tudo em benefício dos pequenos homens,
Frágeis homens
E eram gratos
Cantavam, festejavam, louvavam
As crianças brincavam,
Subiam, desciam, pulavam
Em suas mãos enormes
As mulheres faziam quitutes
Para seu titânico apetite
Em cada aldeia, em cada burgo,
Em cada província, em cada reino
A chegada do amigo era comemorada
Humilde, agradecia,
Mas de nada precisava...
Nem exigia!
Desinteressado seguia,
Ajudando os homens,
Compadecido da pequenez
Passou o tempo;
Geniais e geniosos,
Os homens inventaram,
Inventaram muito:
Máquinas de paz,
Máquinas de guerra
Dispensavam o gigante
Era desnecessário
Sua pujança, ah!
Lembrava-lhes sua fraqueza
O amigo incomodava,
Contrastante testemunho
Da fragilidade humana
Ao bondoso titã
Guerra declarou-se
Seu grande coração,
De tristeza se encheu
Com tanques-formiga,
Aviões-mosquito,
Petardos-ferrão,
Tentavam ferir a montanha
Apenas caminhava
O benfeitor,
Evitando o pisão
Em algum minúsculo
Sumiu
Não visitava aldeias,
Não aparecia em burgos,
Não o viam as províncias,
Esqueceram-no os reinos
Seguiram os homens,
Sua vidinha de baratas
Mas não viam...
Não sabiam...
À noite...
Quando todos dormiam...
Silencioso...
Sorrateiro...
Lá estava ele...
Cavando canais...
Abrindo caminhos...
Achanando terrenos...
Derrubando montanhas...
Tudo em benefício dos pequenos homens,
Mesquinhos homens...
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Fúria
Tudo tombava ante sua fúria selvagem
Sedenta,
Sua espada nada poupava
A fúria ardia em seu peito,
Santa fúria,
Fúria infernal
Sua mente queimava
De ódio plena
Ódio contra o mundo
Ódio contra tudo
Espada,
Lança,
Machado,
Martelo,
Tudo que destrói,
Tudo que mata,
Era sua ferramenta
Seu coração era abismo sombrio,
Poço sem fundo,
Noite sem lua,
Ansiando justiça,
Ansiando vingança
Quem deteria tal fera?
Quem mataria tal demônio?
Tudo tombava ante sua fúria selvagem
Sedenta,
Sua espada nada poupava
A fúria ardia em seu peito,
Santa fúria,
Fúria infernal
Sua mente queimava
De ódio plena
Ódio contra o mundo
Ódio contra tudo
Espada,
Lança,
Machado,
Martelo,
Tudo que destrói,
Tudo que mata,
Era sua ferramenta
Seu coração era abismo sombrio,
Poço sem fundo,
Noite sem lua,
Ansiando justiça,
Ansiando vingança
Quem deteria tal fera?
Quem mataria tal demônio?
Tudo tombava ante sua fúria selvagem
domingo, 26 de setembro de 2010
Arundel
À beira do rio,
Despreocupada,
Brinca Arundel
Flores cheira,
Corre entre árvores,
O mundo ignora
Seria plebeia?
Seria nobre?
Arundel não sabe;
É criança apenas
Pequeno é seu mundo;
Casa, Quinta, Igreja,
Mais nada
Abraçada ao cãozinho,
Dorme Arundel,
Sonha inocente
Canta Arundel,
Sorrindo dança,
Ninguém entende...
Arundel é feliz!
Despreocupada,
Brinca Arundel
Flores cheira,
Corre entre árvores,
O mundo ignora
Seria plebeia?
Seria nobre?
Arundel não sabe;
É criança apenas
Pequeno é seu mundo;
Casa, Quinta, Igreja,
Mais nada
Abraçada ao cãozinho,
Dorme Arundel,
Sonha inocente
Canta Arundel,
Sorrindo dança,
Ninguém entende...
Arundel é feliz!
Tárik e Roderico
Brilha o Sol,
Infernal calor,
Ofuscantes reflexos,
No Guadalete
Massas se espremem;
De um lado a Cruz,
De outro o Crescente
Meros pretextos
Espuma Tárik,
Rosna Roderico
Soam trombetas
Voam setas
Trotam cavalos
Retinem espadas
Ressoam escudos
Avançam lanças
Cedem ventres
Rolam cabeças
Pendem braços
Saltam vísceras
Caem miolos
Tombam homens
Sangue, sangue, sangue!
Passáros carniceiros
Famintos lobos
Escumam de apetite
Macabro repasto!
O campo de batalha é cozinha fumegante
Bravos atacam godos
Timidos recuam mouros
Roderico sorri
Tárik espera
A Cruz parece rir do Crescente
A tarde avança
Os godos também
O sangue vira lago;
Os cadáveres, montanha
Impávido corre Roderico:
Espada em riste,
Mergulha sobre o infiel
Esmagado pelas patas do cavalo
Trágico cálculo...
Os godos perdem o rei;
Entre muralha de mouros,
Roderico está só
Roderico gargalha
Roderico sangra
Roderico golpeia
Roderico morre
Corre o rumor
"O rei está morto!"
Corre o terror
Tomba decapitada a tropa goda
Qual cimitarra,
O sarraceno avança
Tárik sorri
O godo desespera
O godo recua
O godo foge
Livra-se o caminho de Toledo
Abrem-se as portas da conquista
De Gibraltar aos Pirineus
Brilha já o Crescente
Com Roderico morre uma era;
Com Tárik nasce outra
Ah, Guadalete, doloroso parto!
Morte ao Reino dos Godos!
Viva o Califado de Toledo!
Infernal calor,
Ofuscantes reflexos,
No Guadalete
Massas se espremem;
De um lado a Cruz,
De outro o Crescente
Meros pretextos
Espuma Tárik,
Rosna Roderico
Soam trombetas
Voam setas
Trotam cavalos
Retinem espadas
Ressoam escudos
Avançam lanças
Cedem ventres
Rolam cabeças
Pendem braços
Saltam vísceras
Caem miolos
Tombam homens
Sangue, sangue, sangue!
Passáros carniceiros
Famintos lobos
Escumam de apetite
Macabro repasto!
O campo de batalha é cozinha fumegante
Bravos atacam godos
Timidos recuam mouros
Roderico sorri
Tárik espera
A Cruz parece rir do Crescente
A tarde avança
Os godos também
O sangue vira lago;
Os cadáveres, montanha
Impávido corre Roderico:
Espada em riste,
Mergulha sobre o infiel
Esmagado pelas patas do cavalo
Trágico cálculo...
Os godos perdem o rei;
Entre muralha de mouros,
Roderico está só
Roderico gargalha
Roderico sangra
Roderico golpeia
Roderico morre
Corre o rumor
"O rei está morto!"
Corre o terror
Tomba decapitada a tropa goda
Qual cimitarra,
O sarraceno avança
Tárik sorri
O godo desespera
O godo recua
O godo foge
Livra-se o caminho de Toledo
Abrem-se as portas da conquista
De Gibraltar aos Pirineus
Brilha já o Crescente
Com Roderico morre uma era;
Com Tárik nasce outra
Ah, Guadalete, doloroso parto!
Morte ao Reino dos Godos!
Viva o Califado de Toledo!
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Butão
Drukyul,
Fantasia,
Sonho,
Utopia
Terra da virtude
Longe, longe
A loucura ocidental
Sereno azul
O céu abençoa
A felicidade do reino
Sábio governa o rei
Confiante vive o povo
Evolam-se preces
Por monges entoadas
A paz sobe às estrelas
Utopia,
Sonho,
Fantasia,
Drukyul
Fantasia,
Sonho,
Utopia
Terra da virtude
Longe, longe
A loucura ocidental
Sereno azul
O céu abençoa
A felicidade do reino
Sábio governa o rei
Confiante vive o povo
Evolam-se preces
Por monges entoadas
A paz sobe às estrelas
Utopia,
Sonho,
Fantasia,
Drukyul
terça-feira, 13 de julho de 2010
Redemptio
Cansado do Inferno,
Sobe Lúcifer,
A escada de Jacó:
"Eis de volta
O filho pródigo!" -
Sorriu o Pai...
22/03/10
Sobe Lúcifer,
A escada de Jacó:
"Eis de volta
O filho pródigo!" -
Sorriu o Pai...
22/03/10
sábado, 26 de junho de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Lamento de Gilgamesh
Ah, triste dia!
Do muro à praça,
Do templo ao palácio,
Chora a bela Uruk
Enkidu não está mais aqui!
Ah, grande guerreiro,
Grande amigo,
Finalmente, no leito,
A morte te apanhou!
Enkidu não está mais aqui!
Estremecem as montanhas,
Negro está o céu,
Murchas as flores,
O mundo é um pouco menos belo
Enkidu não está mais aqui!
Amigo,
Irmão,
Foste embora,
Estou sozinho
Enkidu não está mais aqui!
Eras meu escudo
Eras meu machado
Eras minha espada
Contigo, a tormenta era pequena
Enkidu não está mais aqui!
Sem ti,
A guerra será mais crua
Sem ti,
A alegria será menos viva
Enkidu não está mais aqui!
Vai em paz, amigo!
Vai em paz, irmão!
Enkidu continua aqui!
Do muro à praça,
Do templo ao palácio,
Chora a bela Uruk
Enkidu não está mais aqui!
Ah, grande guerreiro,
Grande amigo,
Finalmente, no leito,
A morte te apanhou!
Enkidu não está mais aqui!
Estremecem as montanhas,
Negro está o céu,
Murchas as flores,
O mundo é um pouco menos belo
Enkidu não está mais aqui!
Amigo,
Irmão,
Foste embora,
Estou sozinho
Enkidu não está mais aqui!
Eras meu escudo
Eras meu machado
Eras minha espada
Contigo, a tormenta era pequena
Enkidu não está mais aqui!
Sem ti,
A guerra será mais crua
Sem ti,
A alegria será menos viva
Enkidu não está mais aqui!
Vai em paz, amigo!
Vai em paz, irmão!
Enkidu continua aqui!
Gauloise
Vou-me embora pra Lutécia
Lá sou amigo do druida
Como o melhor cogumelo
E o melhor naco de porco
Conversa boa,
Jogo, dança, música
A noite inteira
Água fresca,
Cama fofa,
Pão macio,
Cereja e maçã à vontade
Vou-me embora pra Lutécia
Lá sou amigo do druida...
26/03/10
Com o perdão de Bandeira...
Lá sou amigo do druida
Como o melhor cogumelo
E o melhor naco de porco
Conversa boa,
Jogo, dança, música
A noite inteira
Água fresca,
Cama fofa,
Pão macio,
Cereja e maçã à vontade
Vou-me embora pra Lutécia
Lá sou amigo do druida...
26/03/10
Com o perdão de Bandeira...
Confissão
Tenho alergia a relativismos incapazes de relativizarem a si mesmos. Pode existir frase mais paradoxal que "tudo é relativo"? Afinal de contas, nesse caso, a frase deveria ser reescrita com maior clareza: "tudo é relativo, menos essa própria afirmação". No fundo, me parece que todo relativista radical é apenas um pequeno totalitarista ranzinza (embora aparentemente bem humorado), incapaz de dialogar e pôr em jogo seu próprio eu; enfim, uma triste antítese secreta de tudo aquilo que alardeia na fachada...
terça-feira, 4 de maio de 2010
Shiva
Salver,
Imortal dançarino!
Mestre das transformações
Morte e vida se unem
Em teu puro fogo
Em tuas mãos corre o tempo,
Em sua espiral sem fim
Sob teus pés se aniquila o mal,
Dele libertas todas as criaturas,
Em tua incessante dança de renovação!
Possam tuas lágrimas piedosas fecundar o mundo!
Imortal dançarino!
Mestre das transformações
Morte e vida se unem
Em teu puro fogo
Em tuas mãos corre o tempo,
Em sua espiral sem fim
Sob teus pés se aniquila o mal,
Dele libertas todas as criaturas,
Em tua incessante dança de renovação!
Possam tuas lágrimas piedosas fecundar o mundo!
terça-feira, 20 de abril de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
Fides
Adalberão curvou-se a seu senhor
Por feudo, castelo, cavalo, terra
Adalberão viveu feliz por muitos anos
Entre seus servos e vassalos
Quando houve guerra,
Acompanhou o senhor
Quando houve paz,
Caçou com o senhor
Com lança no peito,
Adalberão morreu,
Por seu senhor
Por feudo, castelo, cavalo, terra
Adalberão viveu feliz por muitos anos
Entre seus servos e vassalos
Quando houve guerra,
Acompanhou o senhor
Quando houve paz,
Caçou com o senhor
Com lança no peito,
Adalberão morreu,
Por seu senhor
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Libertas
Sinto livre minha alma,
A voar por céus azuis,
Sobre ventos das musas,
Sob o Sol da verdade
24/02/10
A voar por céus azuis,
Sobre ventos das musas,
Sob o Sol da verdade
24/02/10
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Comemorando 50
Parece inacreditável (para mim), mas esse blog conseguiu ultrapassar a marca dos cinquenta posts. Eu duvidava que conseguiria mantê-lo por mais de um mês, mas acabei superando bastante as expectativas. Vamos ver até onde consigo ir com trabalho e estudos...
Musashi
Guerreiro,
Andarilho,
Artista,
Pensador
Percorreu um mundo,
Aprendiz sempre
Mestre da espada,
Mestre do pincel,
Artista de morte e vida
Andarilho,
Artista,
Pensador
Percorreu um mundo,
Aprendiz sempre
Mestre da espada,
Mestre do pincel,
Artista de morte e vida
terça-feira, 6 de abril de 2010
Morte
O cavaleiro anda pela floresta
Sente às costas o frio sopro
Dá de ombros, segue em frente
Um dia encontrará com ela;
Não a teme
Sente às costas o frio sopro
Dá de ombros, segue em frente
Um dia encontrará com ela;
Não a teme
segunda-feira, 29 de março de 2010
ECPA - Estudos de Chavologia Pura e Aplicada
"Não existe trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar".
Seu Madruga
Seu Madruga
quarta-feira, 24 de março de 2010
Teia
Sol
Planta
Fotossíntese
Glicose
Energia
Vida
Horta
Caixote
Caminhão
Feira
Dinheiro
Panela
Prato
Boca
Ventre
Energia
Vida
Tempo
Túmulo
Bactéria
Humus
Planta
Sol...
Planta
Fotossíntese
Glicose
Energia
Vida
Horta
Caixote
Caminhão
Feira
Dinheiro
Panela
Prato
Boca
Ventre
Energia
Vida
Tempo
Túmulo
Bactéria
Humus
Planta
Sol...
Arlequim
Arlequim canta,
Arlequim pula,
Arlequim dança,
Arlequim ri,
Arlequim lê,
Arlequim sonha,
Arlequim sorri,
Arlequim briga,
Arlequim dorme,
Arlequim come,
Arlequim pensa,
Arlequim brinca,
Arlequim corre,
Arlequim joga
Se olha no espelho:
-Arle... quem?
Arlequim?
Quem?
Não sabe mais
Sua alma está dividida,
Remendada,
Retalhada
Mais que seu manto multicor
Arlequim chora...
Arlequim pula,
Arlequim dança,
Arlequim ri,
Arlequim lê,
Arlequim sonha,
Arlequim sorri,
Arlequim briga,
Arlequim dorme,
Arlequim come,
Arlequim pensa,
Arlequim brinca,
Arlequim corre,
Arlequim joga
Se olha no espelho:
-Arle... quem?
Arlequim?
Quem?
Não sabe mais
Sua alma está dividida,
Remendada,
Retalhada
Mais que seu manto multicor
Arlequim chora...
terça-feira, 23 de março de 2010
O bravo e pio Duque Rogoaldo de Morúsia
Nenhum fidalgo há
Tão bravo e forte
Pio e santo
Quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia
Na segunda, tomou três castelos,
Na terça, destruiu dez cidades
Na quarta, arrasou cem plantações
Na quinta, enforcou mil hereges
Na sexta, matou dez mil soldados
No sábado, preou cem mil escravos
No domingo, sentou e assistiu a missa
Haverá fidalgo tão bravo, forte, pio e santo quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia?
Em 11 de março do ano 2010 da graça do Senhor
Tão bravo e forte
Pio e santo
Quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia
Na segunda, tomou três castelos,
Na terça, destruiu dez cidades
Na quarta, arrasou cem plantações
Na quinta, enforcou mil hereges
Na sexta, matou dez mil soldados
No sábado, preou cem mil escravos
No domingo, sentou e assistiu a missa
Haverá fidalgo tão bravo, forte, pio e santo quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia?
Em 11 de março do ano 2010 da graça do Senhor
segunda-feira, 22 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
Sabedoria
Egoberto reinava sobre o povo de Vanitia. Era um rei muito sábio, conhecedor profundo de todos os saberes e fazeres do mundo: Retórica, Alquimia, Poesia, Filosofia, Astrologia, Teologia, nada, nada lhe escapava. Nenhuma biblioteca no mundo se igualava à de Egoberto, abrigando tomos e mais tomos cuidadosamente iluminados pelos mais caprichosos copistas. As paredes de seu palácio ostentavam afrescos pintados pelos mais preciosos artistas do mundo e estátuas cinzeladas pelos mais requisitados escultores se posicionavam harmoniosamente ao longo das salas e corredores. Seu gabinete de curiosidades guardava as mais raras peças que um colecionador poderia se gabar de possuir. Sua mapoteca tinha as mais completas e precisas cartas celestes, terrestres e marítimas, executadas pelos mais habilidosos cartógrafos.
Egoberto amava a sabedoria e as conversações sutis como mais ninguém no mundo. Poderia passar horas debatendo sobre os mais diversos tópicos sem se cansar minimamente. E que polemista era o rei Egoberto! Estava por nascer aquele que conseguiria alinhavar argumentos tão precisos e astutos quanto os seus, pois o rei sempre tinha a última palavra em todas as discussões. Ninguém era capaz de apreciar uma obra literária ou plástica com comentários tão refinados e eruditos quanto os seus. Egoberto amava a sabedoria e era um sábio.
Mas ele odiava todas as coisas medíocres, prosaicas e mundanas, e odiava ainda mais as pessoas medíocres, prosaicas e mundanas. Sentia verdadeira repugnância pela maioria dos habitantes de se reino, lavradores e artesãos ignorantes e iletrados, incapazes de proferir uma frase corretamente ou fazer qualquer observação minimamente sutil. Gente grosseira e mesquinha, sem qualquer valor! Era com asco que Egoberto via a maioria de seus súditos, escapando a sua companhia insuportável sempre que possível, tolerando-os apenas quando estritamente necessário.
Por isso mesmo buscava cercar-se sempre das companhias mais sofisticadas, os mais doutos de seu reino e de outros, entretendo longas horas de agradável e delicada conversação, satisfazendo-se todos em deleitosas frases e elevadas polêmicas. Mesmo os criados palacianos de Egoberto eram cuidadosamente selecionados entre os mais toleráveis membros da populaça, pois não aguentaria ter seu chá servido com linguagem vulgar.
Certo dia Egoberto, cansado e encolerizado da lida com seus ignaros súditos, tomou uma decisão revolucionária: transformaria Vanitia num reino onde existisse apenas a luz da sabedoria. Seu reinado seria recordado para todo o sempre como a mais áurea era do espírito humano. Para tanto, convidou os maiores eruditos de todo o mundo para formar em seu palácio um nobilíssimo colégio, onde entreter-se-iam por anos a fio com os mais inextricáveis problemas do conhecimento humano. Por outro lado, ordenou que todos os demais súditos de seu reino, a gente rude e oca que não suportava, fossem embora de seu reino, indo habitar as abandonadas terras vizinhas.
E assim se fez.
O palácio de Egoberto fez-se morada para os maiores gênios de todos os ramos do pensamento, que refestelavam-se em lautos banquetes e animados debates pelas noites adentro, em salões iluminados por milhares de velas, ou em sapientíssimos ágapes em frescas tardes primaveris, sob caramanchões cobertos de sebes floridas. Seria impossível descrever o elevadíssimo teor das conversações ali entretidas.
Mas certo dia, não muito distante, o mordomo do palácio veio com triste semblante comunicar ao rei uma desagradável notícia: haviam se acabado todos os víveres dos armazéns do palácio e não havia alimento sequer para a próxima refeição. A notícia foi comunicada aos convivas, que resolveram sofrer estoicamente, decididos a não deixar se apagar o precioso lume do intelecto que brilhava naquele palácio, continuando suas doutas reuniões.
Mas ao cabo de três dias ninguém sentia-se animado para os rutilantes diálogos.
Ao fim de uma semana muitos suicidaram-se em desespero.
Alguns, em aflição, rebaixaram-se a tomar do arado e outras rudes ferramentas para tentar prover seu necessário sustento, mas faltavam-lhes o conhecimento e a habilidade para tanto.
Egoberto deitou-se em febril depressão, e definhou chorando até morrer de fome, em poucos dias.
Em menos de um mês todos os membros da auspiciosa assembléia nada mais eram que putrefatos cadáveres exalando cheiros insuportáveis pelo belíssimo palácio.
Dizem as lendas que os camponeses rudes, medíocres, grosseiros, prosaicos e mundanos formaram um próspero no reino nas ermas terras onde se exilaram. Lá não brilhava a augusta luz da sabedoria, mas sobreviveram.
Egoberto amava a sabedoria e as conversações sutis como mais ninguém no mundo. Poderia passar horas debatendo sobre os mais diversos tópicos sem se cansar minimamente. E que polemista era o rei Egoberto! Estava por nascer aquele que conseguiria alinhavar argumentos tão precisos e astutos quanto os seus, pois o rei sempre tinha a última palavra em todas as discussões. Ninguém era capaz de apreciar uma obra literária ou plástica com comentários tão refinados e eruditos quanto os seus. Egoberto amava a sabedoria e era um sábio.
Mas ele odiava todas as coisas medíocres, prosaicas e mundanas, e odiava ainda mais as pessoas medíocres, prosaicas e mundanas. Sentia verdadeira repugnância pela maioria dos habitantes de se reino, lavradores e artesãos ignorantes e iletrados, incapazes de proferir uma frase corretamente ou fazer qualquer observação minimamente sutil. Gente grosseira e mesquinha, sem qualquer valor! Era com asco que Egoberto via a maioria de seus súditos, escapando a sua companhia insuportável sempre que possível, tolerando-os apenas quando estritamente necessário.
Por isso mesmo buscava cercar-se sempre das companhias mais sofisticadas, os mais doutos de seu reino e de outros, entretendo longas horas de agradável e delicada conversação, satisfazendo-se todos em deleitosas frases e elevadas polêmicas. Mesmo os criados palacianos de Egoberto eram cuidadosamente selecionados entre os mais toleráveis membros da populaça, pois não aguentaria ter seu chá servido com linguagem vulgar.
Certo dia Egoberto, cansado e encolerizado da lida com seus ignaros súditos, tomou uma decisão revolucionária: transformaria Vanitia num reino onde existisse apenas a luz da sabedoria. Seu reinado seria recordado para todo o sempre como a mais áurea era do espírito humano. Para tanto, convidou os maiores eruditos de todo o mundo para formar em seu palácio um nobilíssimo colégio, onde entreter-se-iam por anos a fio com os mais inextricáveis problemas do conhecimento humano. Por outro lado, ordenou que todos os demais súditos de seu reino, a gente rude e oca que não suportava, fossem embora de seu reino, indo habitar as abandonadas terras vizinhas.
E assim se fez.
O palácio de Egoberto fez-se morada para os maiores gênios de todos os ramos do pensamento, que refestelavam-se em lautos banquetes e animados debates pelas noites adentro, em salões iluminados por milhares de velas, ou em sapientíssimos ágapes em frescas tardes primaveris, sob caramanchões cobertos de sebes floridas. Seria impossível descrever o elevadíssimo teor das conversações ali entretidas.
Mas certo dia, não muito distante, o mordomo do palácio veio com triste semblante comunicar ao rei uma desagradável notícia: haviam se acabado todos os víveres dos armazéns do palácio e não havia alimento sequer para a próxima refeição. A notícia foi comunicada aos convivas, que resolveram sofrer estoicamente, decididos a não deixar se apagar o precioso lume do intelecto que brilhava naquele palácio, continuando suas doutas reuniões.
Mas ao cabo de três dias ninguém sentia-se animado para os rutilantes diálogos.
Ao fim de uma semana muitos suicidaram-se em desespero.
Alguns, em aflição, rebaixaram-se a tomar do arado e outras rudes ferramentas para tentar prover seu necessário sustento, mas faltavam-lhes o conhecimento e a habilidade para tanto.
Egoberto deitou-se em febril depressão, e definhou chorando até morrer de fome, em poucos dias.
Em menos de um mês todos os membros da auspiciosa assembléia nada mais eram que putrefatos cadáveres exalando cheiros insuportáveis pelo belíssimo palácio.
Dizem as lendas que os camponeses rudes, medíocres, grosseiros, prosaicos e mundanos formaram um próspero no reino nas ermas terras onde se exilaram. Lá não brilhava a augusta luz da sabedoria, mas sobreviveram.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Ergo
A Descartes, Marx e Weber
A lógica é racional?
Eis curiosa questão!
Tão contrária a si mesma
É a Razão...
De fato,
A Razão parece ter razões
Que o próprio coração desconhece!
Quanto maior a soma,
Maior a miséria:
Loucura?
Ou ciência econômica?
A inteligência avança,
O saber caminha,
O gênio engenhos constrói,
De morte, destruição, dor!
Mais veloz que Hermes,
O homem se comunica...
Pra saber da novela,
E "celebridades" vazias!
A natureza morre!
Com gases, embalagens, petróleo,
Construímos o monumento de nossa era...
Nosso mausoléu!
A prosperidade aumenta,
A felicidade diminui,
A paz inexiste,
A alegria sufoca!
Cogitamus, ergo sumus...
Requiescamus in pace!
Fev. 2010
A lógica é racional?
Eis curiosa questão!
Tão contrária a si mesma
É a Razão...
De fato,
A Razão parece ter razões
Que o próprio coração desconhece!
Quanto maior a soma,
Maior a miséria:
Loucura?
Ou ciência econômica?
A inteligência avança,
O saber caminha,
O gênio engenhos constrói,
De morte, destruição, dor!
Mais veloz que Hermes,
O homem se comunica...
Pra saber da novela,
E "celebridades" vazias!
A natureza morre!
Com gases, embalagens, petróleo,
Construímos o monumento de nossa era...
Nosso mausoléu!
A prosperidade aumenta,
A felicidade diminui,
A paz inexiste,
A alegria sufoca!
Cogitamus, ergo sumus...
Requiescamus in pace!
Fev. 2010
terça-feira, 16 de março de 2010
Leo Magnus
As bestas-feras correm, correm
Sórdidas, sombrias, fétidas
Mesquinhas, tolas, superficiais
Querem pegá-lo
Tentam alcançá-lo
Suas patas disformes querem agarrá-lo
Suas garras pútridas querem arranhá-lo
Seu faro insípido tenta encontrá-lo
Mas não conseguem
Garboso e altivo corre o Leão
Sua trilha está muito, muito além
Da compreensão das simples bestas
Longe demais de suas patas, garras e faro
Sua velocidade é incomparável
O Leão corre
As bestas pensam fazê-lo
...mas rastejam, ventre colado ao chão...
O Leão corre,
Corre,
Corre,
Corre!
O vento acaricia sua juba
O sol beija seu corpo,
Em dourados reflexos
O Leão sorri;
Sabe ser Leão
Sórdidas, sombrias, fétidas
Mesquinhas, tolas, superficiais
Querem pegá-lo
Tentam alcançá-lo
Suas patas disformes querem agarrá-lo
Suas garras pútridas querem arranhá-lo
Seu faro insípido tenta encontrá-lo
Mas não conseguem
Garboso e altivo corre o Leão
Sua trilha está muito, muito além
Da compreensão das simples bestas
Longe demais de suas patas, garras e faro
Sua velocidade é incomparável
O Leão corre
As bestas pensam fazê-lo
...mas rastejam, ventre colado ao chão...
O Leão corre,
Corre,
Corre,
Corre!
O vento acaricia sua juba
O sol beija seu corpo,
Em dourados reflexos
O Leão sorri;
Sabe ser Leão
sábado, 13 de março de 2010
The Dark Knight
On the rooftops of Gotham
Lurks a shadow creature
He holds tragedy on his shoulders
His hearth is heavy of past
All his sorrows became holy anger
Beware,
You that crawl on evil!
His chase never ends
He preys every night
He will catch you,
He will drag you under the claw of justice
Because he is the dark defender of light,
The Gotham protector,
The Dark Knight,
THE BATMAN!
Lurks a shadow creature
He holds tragedy on his shoulders
His hearth is heavy of past
All his sorrows became holy anger
Beware,
You that crawl on evil!
His chase never ends
He preys every night
He will catch you,
He will drag you under the claw of justice
Because he is the dark defender of light,
The Gotham protector,
The Dark Knight,
THE BATMAN!
segunda-feira, 8 de março de 2010
domingo, 7 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
ECPA (Estudos de Chavologia Pura e Aplicada)
"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".
Seu Madruga
Seu Madruga
terça-feira, 2 de março de 2010
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Inexorável
Ele caminhava sob mil Fúrias...
A tempestade se abateu com trovões retumbantes
Mas ele prosseguiu
Veio a nevasca inclemente, pesada como rochedos
Ele apenas continuou
Ventos cortantes sopravam, frios como a morte
Ele não parou
Tornados, furacões, ciclones destruidores
Ele não se abateu
O Sol causticante o queimava como chamas famintas
Ele resistiu
Ele caminhava sob mil Fúrias...
A tempestade se abateu com trovões retumbantes
Mas ele prosseguiu
Veio a nevasca inclemente, pesada como rochedos
Ele apenas continuou
Ventos cortantes sopravam, frios como a morte
Ele não parou
Tornados, furacões, ciclones destruidores
Ele não se abateu
O Sol causticante o queimava como chamas famintas
Ele resistiu
Ele caminhava sob mil Fúrias...
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Maravilhas modernas
Ontem vi um produto, no mínimo, inusitado: uma tesoura a pilha. O usuário precisa apenas segurar num cabo e apertar o botão, que as pontas começam a se mover e cortar sozinhas. Isso me fez refletir um pouco sobre a enorme quantidade de bugigangas que a nossa sociedade produz sob o rótulo de "inovação tecnológica". O homem contemporâneo exprime uma necessidade absurda de fazer toda e qualquer coisa com algum tipo de tecnologia "inovadora", mesmo que no fundo elas sejam muito menos práticas ou desnecessárias, uma complicação inútil do que poderia ser feito de modo muito mais simples pelos métodos tradicionais. Afinal de contas, não é tão cansativo ou trabalhoso manusear uma tesoura; além do mais, o aparelho só move as pontas, ou seja, o usuário de qualquer forma tem o trabalho de segurar o papel e a tesoura e ainda guiá-la para fazer o corte. Ou seja, a aparente inovação poupa apenas uma ínfima parte do trabalho.
Duas lembranças me vêm à mente nesse sentido. Certa vez vi numa loja um embaralhador elétrico de cartas, o que me causou muito estranhamento: a diversão seria, então, o domínio da eficiência, da produtividade? E o prazer de pegar as cartas, manuseá-las, embralhá-las, onde ficaria? Mesmo nas coisas mais pessoais essa sanha hi-tech teima em introduzir máquinas impessoais para realizar as tarefas mais simples. Outra das coisas mais absurdas que já vi era um pegador de azeitonas a vácuo (!). Não seria muito mais simples usar a tradicional colher que, além do mais, realiza inúmeras outras operações como pegar cerejas, champignons, e inúmeras outras coisas? Sem falar, é claro, que serve para pegar três ou quatro azeitonas de uma vez só, ao contrário do "revolucionário" pegador de azeitonas (a vácuo, não nos esqueçamos, já que tudo que faz algo "a vácuo" parece intrinsecamente inovador). De fato, parece-me que a colher sim é uma grande invenção, por sua praticidade e versatilidade, embora tenha mais de dois mil anos.
Esses exemplos são os mais absurdos, mas essa tendência está sempre por aí, nos aparelhos aparentemente mais úteis, como, por exemplo, espremedores de laranja ou picadores de legumes elétricos. Embora, de fato, realizem a tarefa muito mais rapidamente que uma faca ou um espremedor convencional, essas máquinas requerem posteriormente um processo de desmontagem e lavagem tão trabalhoso que acabam por ser menos práticos que os métodos comuns. Minha tia possuía inúmeros desses fantásticos produtos, que nunca usava pelo trabalho que a limpeza constituía. Isso sem falar que um picador elétrico ocupa um espaço muito maior que uma faca...
Chega a ser perturbadora essa ânsia por inovar e fazer as coisas sempre com complexidade maior, maior, maior... Bigger, better, greater... De fato, certas máquinas, como os citados espremedores de laranja ou picadores de legumes podem ser extremamente úteis em determinados contextos, como num restaurante ou numa lanchonete, onde são servidas centenas de saladas ou laranjadas por dia e o processo de limpeza realmente seja compensado pela quantidade de trabalho manual poupada. Mas para uso residencial? Leva-se mais tempo lavando o aparelho que consumindo a laranjada! E é exatamente aí que reside todo o absurdo da lógica da inovação a qualquer custo: somos levados a trazer uma estrutura industrial, de produção em massa, para nossa vida pessoal, particular, íntima, cotidiana. A sociedade estimula-nos insanamente a transformas nossos lares em miniaturas de fábricas e de sua insana produção em série, numa bizarra padronização da intimidade. Realmente perturbador.
Contudo, parece que isso não é algo tão recente. Vejamos esse trecho do conto Civilização, embrião do romance A cidade e as serras, do brilhante Eça de Queirós, que descreve os apetrechos de escrita do personagem Jacinto:
"Nunca recordo sem assombro a sua mesa, recoberta toda de sagazes e sutis instrumentos para cortar papel, numerar páginas, colar estampilhas, aguçar lápis, raspar emendas, imprimir datas, derreter lacre, cintar documentos, carimbar contas! Uns de níquel, outros de aço, rebrilhantes e frios, todos eram de um manejo laborioso e lento: alguns, com as molas rígidas, as pontas vivas, trilhavam e feriam: e nas largas folhas de papel Whatman em que ele escrevia, e que custavam 500 réis, eu por vezes surpreendi gotas de sangue do meu amigo. Mas a todos ele considerava indispensáveis para compor as suas cartas".
Duas lembranças me vêm à mente nesse sentido. Certa vez vi numa loja um embaralhador elétrico de cartas, o que me causou muito estranhamento: a diversão seria, então, o domínio da eficiência, da produtividade? E o prazer de pegar as cartas, manuseá-las, embralhá-las, onde ficaria? Mesmo nas coisas mais pessoais essa sanha hi-tech teima em introduzir máquinas impessoais para realizar as tarefas mais simples. Outra das coisas mais absurdas que já vi era um pegador de azeitonas a vácuo (!). Não seria muito mais simples usar a tradicional colher que, além do mais, realiza inúmeras outras operações como pegar cerejas, champignons, e inúmeras outras coisas? Sem falar, é claro, que serve para pegar três ou quatro azeitonas de uma vez só, ao contrário do "revolucionário" pegador de azeitonas (a vácuo, não nos esqueçamos, já que tudo que faz algo "a vácuo" parece intrinsecamente inovador). De fato, parece-me que a colher sim é uma grande invenção, por sua praticidade e versatilidade, embora tenha mais de dois mil anos.
Esses exemplos são os mais absurdos, mas essa tendência está sempre por aí, nos aparelhos aparentemente mais úteis, como, por exemplo, espremedores de laranja ou picadores de legumes elétricos. Embora, de fato, realizem a tarefa muito mais rapidamente que uma faca ou um espremedor convencional, essas máquinas requerem posteriormente um processo de desmontagem e lavagem tão trabalhoso que acabam por ser menos práticos que os métodos comuns. Minha tia possuía inúmeros desses fantásticos produtos, que nunca usava pelo trabalho que a limpeza constituía. Isso sem falar que um picador elétrico ocupa um espaço muito maior que uma faca...
Chega a ser perturbadora essa ânsia por inovar e fazer as coisas sempre com complexidade maior, maior, maior... Bigger, better, greater... De fato, certas máquinas, como os citados espremedores de laranja ou picadores de legumes podem ser extremamente úteis em determinados contextos, como num restaurante ou numa lanchonete, onde são servidas centenas de saladas ou laranjadas por dia e o processo de limpeza realmente seja compensado pela quantidade de trabalho manual poupada. Mas para uso residencial? Leva-se mais tempo lavando o aparelho que consumindo a laranjada! E é exatamente aí que reside todo o absurdo da lógica da inovação a qualquer custo: somos levados a trazer uma estrutura industrial, de produção em massa, para nossa vida pessoal, particular, íntima, cotidiana. A sociedade estimula-nos insanamente a transformas nossos lares em miniaturas de fábricas e de sua insana produção em série, numa bizarra padronização da intimidade. Realmente perturbador.
Contudo, parece que isso não é algo tão recente. Vejamos esse trecho do conto Civilização, embrião do romance A cidade e as serras, do brilhante Eça de Queirós, que descreve os apetrechos de escrita do personagem Jacinto:
"Nunca recordo sem assombro a sua mesa, recoberta toda de sagazes e sutis instrumentos para cortar papel, numerar páginas, colar estampilhas, aguçar lápis, raspar emendas, imprimir datas, derreter lacre, cintar documentos, carimbar contas! Uns de níquel, outros de aço, rebrilhantes e frios, todos eram de um manejo laborioso e lento: alguns, com as molas rígidas, as pontas vivas, trilhavam e feriam: e nas largas folhas de papel Whatman em que ele escrevia, e que custavam 500 réis, eu por vezes surpreendi gotas de sangue do meu amigo. Mas a todos ele considerava indispensáveis para compor as suas cartas".
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Estelae
Negro é o veludo noturno
Mas surge uma estrela...
E outra
E outra
E outra, e outra, e outra...
Quanta magia nesse cintilar!
Veloz e incansável é a luz estelar
Silenciosa testemunha de distâncias infinitas
Quem sabe por onde andou?
Há séculos, séculos e séculos vezes mil
De seu lar saída,
Luz serena;
Quanta maravilha viste?
Colapsos apocalípticos,
Nascimentos planetários
Sóis jovens, maduros, moribundos
Cometas lépidos,
Meteoros tristes
Trogloditas e civilizações
Vida, morte, origens, extinções!
Ó, luz sagrada,
Que meus olhos extasia,
De onde vens?
Hoje mesmo, talvez,
Tua estrela mãe não mais seja!
Cruzeiro do Sul, 15/02/10, sob o céu de Aquário
Mas surge uma estrela...
E outra
E outra
E outra, e outra, e outra...
Quanta magia nesse cintilar!
Veloz e incansável é a luz estelar
Silenciosa testemunha de distâncias infinitas
Quem sabe por onde andou?
Há séculos, séculos e séculos vezes mil
De seu lar saída,
Luz serena;
Quanta maravilha viste?
Colapsos apocalípticos,
Nascimentos planetários
Sóis jovens, maduros, moribundos
Cometas lépidos,
Meteoros tristes
Trogloditas e civilizações
Vida, morte, origens, extinções!
Ó, luz sagrada,
Que meus olhos extasia,
De onde vens?
Hoje mesmo, talvez,
Tua estrela mãe não mais seja!
Cruzeiro do Sul, 15/02/10, sob o céu de Aquário
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Pequena galeria de estereótipos - Arqueólogos
Muito bem... Uma nova seção para o blog. Pretendo discutir um pouco sobre alguns estereótipos que frequentam o nosso imaginário e, na medida do possível, refletir a respeito. Vamos ver no que vai dar. Pra começar, nada melhor que falar de arqueólogos, tendo em vista que já fui um deles...
Acho que Indiana Jones encarna o estereótipo do arqueólogo por excelência. Ao se falar em Arqueologia, a primeira coisa que a maioria das pessoas pensa é aventura. Viagens constantes a lugares exóticos, relíquias de valor inestimável, ruínas imponentes, perigos e mais perigos... No imaginário coletivo, o arqueólogo vive entre dois mundos: a refinada atmosfera do museu ou da universidade e o mundo agreste em que mergulha em busca de vestígios do passado. Além disso, é sempre detentor de vastíssima erudição, profundo conhecedor de inúmeras culturas, dominando inúmeras línguas antigas e modernas, além de hábil leitor de escritas arcaicas.
A persistência desse estereótipo pode ser percebida por suas inúmeras encarnações na cultura de massa, desde o dito Indiana Jones à Lara Croft do game Tomb Raider, passando por inúmeros personagens dos quadrinhos, como o Dr. Mortimer, ou o Tio Patinhas (indubitavelmente um arqueólogo amador), além de outros mais obscuros, como o personagem de Brendan Fraser em A múmia(chatíssimo, por sinal) ou ao Alan Quaterman dos filmes de Richard Chamberlain, curiosamente transformado em arqueólogo, diferentemente do romance de H. Rider Hagard, onde o personagem era um caçador (aliás, brilhantemente traduzido para o português por Eça de Queirós). Não faltam também os super-heróis que são arqueólogos em sua identidade secreta, como Gavião Negro ou Thor.
Um aspecto a se destacar diz respeito aos objetivos do arqueólogo. Popularmente, as pessoas costumam acreditar que ele busca apenas objetos de "alto valor histórico" ou então ruínas monumentais. Recordo-me que na época em que comecei a escavar as pessoas não conseguiam esconder sua decepção ao saber que lidávamos "apenas" com vestígios deixados por indígenas, "reles" artefatos em pedra ou osso. De fato, uma pergunta muito comum era se no Brasil havia algo a ser "achado" por um arqueólogo, já que não tivemos nenhuma "grande civilização". Muitas vezes me perguntavam também se já tínhamos encontrado algum "objeto importante", ou que tivesse pertencido a "alguém importante". Esses comentários geralmente partiam das pessoas melhor informadas; outras geralmente perguntavam se já tinha "encontrado" algum fóssil... de dinossauro!
Obviamente não culpo a ninguém por pensar dessa forma, afinal de contas as informações sobre o tema na mídia costumam ser escassas (e pobres), e os produtos da indústria cultural costumam apenas reforçar essa imagem.
Mas essa visão sobre a Arqueologia não me parece de modo algum gratuita. Pelo contrário, creio que tenha muito a ver com os primórdios desse nobre saber. Com efeito, os primeiros arqúeólogos, no fim do século XVIII e início do XIX, eram pouco mais que caçadores de tesouros em sua maioria, com algumas honrosas exceções. Geralmente partiam em expedições na Grécia, Itália ou Oriente Médio em busca de artefatos que vendiam por altas somas aos colecionadores europeus ou americanos (nosso querido imperador D. Pedro II foi um grande colecionador de antiguidades, por exemplo). Os principais critérios que definiam o valor desses objetos eram sua beleza, a qualidade dos materiais em que eram confeccionados (metais ou pedras preciosas) ou a sua raridade. Em boa parte das vezes esses arqueólogos não tinham qualquer interesse pelo conhecimento, nem muitos escrúpulos metodológicos, fazendo dessa atividade seu mero ganha pão.
Bom exemplo desse gênero de arqueólogo era o italiano Gianbattista Benzoni, que diversas vezes percorreu o Nilo de alto a baixo, abastecendo de antiguidades egípcias as coleções públicas e particulares da Europa. Seu interesse era puramente financeiro e Benzoni não hesitava em buscar seus preciosos artefatos de forma predatória, por exemplo, dinamitando ruínas milenares!
Em boa medida, esse estereótipo perdura no imaginário coletivo até hoje, enquanto a prática da Arqueologia se afastou substancialmente desses primórdios. Como se sabe, o arqueólogo escava meticulosamente, registrando a localização onde cada artefato, fóssil etc é encontrado, levando semanas para avançar um mísero metro de profundidade. Além disso, a maior parte do trabalho de investigação não ocorre em campo, mas sim em laboratório, onde são cuidadosamente analisados os objetos retirados da escavação. Deve se acrescentar que o ofício não é tão móvel quanto as pessoas costumam pensar. Um sítio arqueólogico de superfície relativamente pequena leva meses para ser escavado. Alguns podem levar anos ou até décadas, como ocorre em Pompéia. Também interessante observar que nem todo arqueólogo é um erudito poliglota multi-especialista; geralmente o arqueólogo é especializado em uma área determinada ou em algumas culturas específicas. Além disso, a pesquisa arqueológica é hoje tão complexa que faz-se necessário utilizar equipes multidisciplinares, compostas por historiadores, antropólogos, biólogos, geógrafos, geólogos etc. Um arqueólogo sozinho, qualquer que seja sua área de formação, não consegue nem começar, ao contrário de suas contrapartes ficcionais, que quase sempre atuam individualmente.
Por outro lado, a Arqueologia busca principalmente refletir sobre a vida da comunidade que produziu aqueles vestígios no passado, e não simplesmente obter artefatos "valiosos". Nesse sentido, qualquer vestígio é valioso, na medida em que ajuda a compreender aspectos da cultura estudada, como hábitos alimentares, atividades produtivas, ritos funerários, entre inúmeras outras coisas.
Além disso, é interessante observar que o trabalho do arqueólogo se afasta significativamente do glamour a que é comumente associado. Em muitos momentos devemos realizar atividades bastante prosaicas e pesadas, como carregar baldes e mais baldes de terra, ou às vezes cumprir tarefas bastante enfadonhas, como pesquisar documentos nada empolgantes em arquivos. Isso sem falar na sujeira, muita sujeira! Afinal, como a palavra escavação já sinaliza, terra (e às vezes lama) é o que não falta...
Acho que Indiana Jones encarna o estereótipo do arqueólogo por excelência. Ao se falar em Arqueologia, a primeira coisa que a maioria das pessoas pensa é aventura. Viagens constantes a lugares exóticos, relíquias de valor inestimável, ruínas imponentes, perigos e mais perigos... No imaginário coletivo, o arqueólogo vive entre dois mundos: a refinada atmosfera do museu ou da universidade e o mundo agreste em que mergulha em busca de vestígios do passado. Além disso, é sempre detentor de vastíssima erudição, profundo conhecedor de inúmeras culturas, dominando inúmeras línguas antigas e modernas, além de hábil leitor de escritas arcaicas.
A persistência desse estereótipo pode ser percebida por suas inúmeras encarnações na cultura de massa, desde o dito Indiana Jones à Lara Croft do game Tomb Raider, passando por inúmeros personagens dos quadrinhos, como o Dr. Mortimer, ou o Tio Patinhas (indubitavelmente um arqueólogo amador), além de outros mais obscuros, como o personagem de Brendan Fraser em A múmia(chatíssimo, por sinal) ou ao Alan Quaterman dos filmes de Richard Chamberlain, curiosamente transformado em arqueólogo, diferentemente do romance de H. Rider Hagard, onde o personagem era um caçador (aliás, brilhantemente traduzido para o português por Eça de Queirós). Não faltam também os super-heróis que são arqueólogos em sua identidade secreta, como Gavião Negro ou Thor.
Um aspecto a se destacar diz respeito aos objetivos do arqueólogo. Popularmente, as pessoas costumam acreditar que ele busca apenas objetos de "alto valor histórico" ou então ruínas monumentais. Recordo-me que na época em que comecei a escavar as pessoas não conseguiam esconder sua decepção ao saber que lidávamos "apenas" com vestígios deixados por indígenas, "reles" artefatos em pedra ou osso. De fato, uma pergunta muito comum era se no Brasil havia algo a ser "achado" por um arqueólogo, já que não tivemos nenhuma "grande civilização". Muitas vezes me perguntavam também se já tínhamos encontrado algum "objeto importante", ou que tivesse pertencido a "alguém importante". Esses comentários geralmente partiam das pessoas melhor informadas; outras geralmente perguntavam se já tinha "encontrado" algum fóssil... de dinossauro!
Obviamente não culpo a ninguém por pensar dessa forma, afinal de contas as informações sobre o tema na mídia costumam ser escassas (e pobres), e os produtos da indústria cultural costumam apenas reforçar essa imagem.
Mas essa visão sobre a Arqueologia não me parece de modo algum gratuita. Pelo contrário, creio que tenha muito a ver com os primórdios desse nobre saber. Com efeito, os primeiros arqúeólogos, no fim do século XVIII e início do XIX, eram pouco mais que caçadores de tesouros em sua maioria, com algumas honrosas exceções. Geralmente partiam em expedições na Grécia, Itália ou Oriente Médio em busca de artefatos que vendiam por altas somas aos colecionadores europeus ou americanos (nosso querido imperador D. Pedro II foi um grande colecionador de antiguidades, por exemplo). Os principais critérios que definiam o valor desses objetos eram sua beleza, a qualidade dos materiais em que eram confeccionados (metais ou pedras preciosas) ou a sua raridade. Em boa parte das vezes esses arqueólogos não tinham qualquer interesse pelo conhecimento, nem muitos escrúpulos metodológicos, fazendo dessa atividade seu mero ganha pão.
Bom exemplo desse gênero de arqueólogo era o italiano Gianbattista Benzoni, que diversas vezes percorreu o Nilo de alto a baixo, abastecendo de antiguidades egípcias as coleções públicas e particulares da Europa. Seu interesse era puramente financeiro e Benzoni não hesitava em buscar seus preciosos artefatos de forma predatória, por exemplo, dinamitando ruínas milenares!
Em boa medida, esse estereótipo perdura no imaginário coletivo até hoje, enquanto a prática da Arqueologia se afastou substancialmente desses primórdios. Como se sabe, o arqueólogo escava meticulosamente, registrando a localização onde cada artefato, fóssil etc é encontrado, levando semanas para avançar um mísero metro de profundidade. Além disso, a maior parte do trabalho de investigação não ocorre em campo, mas sim em laboratório, onde são cuidadosamente analisados os objetos retirados da escavação. Deve se acrescentar que o ofício não é tão móvel quanto as pessoas costumam pensar. Um sítio arqueólogico de superfície relativamente pequena leva meses para ser escavado. Alguns podem levar anos ou até décadas, como ocorre em Pompéia. Também interessante observar que nem todo arqueólogo é um erudito poliglota multi-especialista; geralmente o arqueólogo é especializado em uma área determinada ou em algumas culturas específicas. Além disso, a pesquisa arqueológica é hoje tão complexa que faz-se necessário utilizar equipes multidisciplinares, compostas por historiadores, antropólogos, biólogos, geógrafos, geólogos etc. Um arqueólogo sozinho, qualquer que seja sua área de formação, não consegue nem começar, ao contrário de suas contrapartes ficcionais, que quase sempre atuam individualmente.
Por outro lado, a Arqueologia busca principalmente refletir sobre a vida da comunidade que produziu aqueles vestígios no passado, e não simplesmente obter artefatos "valiosos". Nesse sentido, qualquer vestígio é valioso, na medida em que ajuda a compreender aspectos da cultura estudada, como hábitos alimentares, atividades produtivas, ritos funerários, entre inúmeras outras coisas.
Além disso, é interessante observar que o trabalho do arqueólogo se afasta significativamente do glamour a que é comumente associado. Em muitos momentos devemos realizar atividades bastante prosaicas e pesadas, como carregar baldes e mais baldes de terra, ou às vezes cumprir tarefas bastante enfadonhas, como pesquisar documentos nada empolgantes em arquivos. Isso sem falar na sujeira, muita sujeira! Afinal, como a palavra escavação já sinaliza, terra (e às vezes lama) é o que não falta...
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
A Fera
Num buraco escuro,
Dentes agudos,
Garras pontudas,
Olhar feroz!
Purulento,
Pestilento,
Fedorento,
Pustulento,
Mau, mau, mau!
Rasga,
Tritura,
Corta,
Esmaga,
Rói,
Destrói!
Cuidado!
À noite ele ataca,
Teu sangue bebe,
Tua carne come,
Tua vida rouba,
Mau, mau, Mal!
Dentes agudos,
Garras pontudas,
Olhar feroz!
Purulento,
Pestilento,
Fedorento,
Pustulento,
Mau, mau, mau!
Rasga,
Tritura,
Corta,
Esmaga,
Rói,
Destrói!
Cuidado!
À noite ele ataca,
Teu sangue bebe,
Tua carne come,
Tua vida rouba,
Mau, mau, Mal!
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Tormes
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Chaves, um sábio turco da Idade Média e brinquedos
Esta semana tive a oportunidade de adquirir no McDonald`s um gracioso bonequinho do Chaves. Além de ser muito bonitinho, com uma expressão hiper-simpática e vir devidamente acompanhado por seu barrilzinho, a miniatura caminha de modo bastante engraçado, movida por uma corda. Passei algum tempo estudando esse movimento, e apreciando a engenhosidade do mecanismo.
De fato,o mecanismo em si é belo por sua simplicidade. Funciona de modo semelhante ao pedal de uma bicicleta, mas de modo invertido, ou seja, o movimento circular da mola impulsiona suas pernas, enquanto em uma bicicleta são as pernas que impulsionam o movimento circular da roda traseira, através do pedal.
Essas observações me levaram a curiosas reflexões. Comecei a pensar sobre esse gênero de mecanismo, classificado como um sistema de biela-manivela, amplamente usado em boa parte das máquinas elaboradas pelo ser humano. Basicamente, é um mecanismo que serve para transformar movimentos retilíneos em circulares e vice-versa. O pedal da bicicleta ou o boneco do Chaves são bons exemplos disso. Poderiam ser citados ainda os motores em geral, as bombas hidráulicas, a maior parte das máquinas industriais, entre muitos outros. Não me aprofundarei mais nessas explicações, pois me faltaria o conhecimento necessário para tanto.
Pensando nisso, lembrei-me de um documentário que assisti faz algum tempo, sobre um engenhoso artesão, matemático e astrônomo turco, chamado Al-Jazari, que viveu entre os séculos XII e XIII. Segundo documentos encontrados recentemente, aparentemente Jazari inventou o "nosso" mecanismo biela-manivela. Seu intento era o de criar máquinas capazes de transportar água de modo automático e eficiente, geralmente tirando-a de corpos naturais de água como rios, lagos, etc e passando-a para aquedutos. Essa era uma funcionalidade de suma importância para a região onde Jazari vivia, dada a aridez de boa parte do Oriente Médio. O sistema biela-manivela parece ter chegado ao Ocidente por volta do século XV, sendo registrado num manuscrito alemão da época, aplicado ao funcionamento de moinhos.
Contudo, é ainda mais interessante pensar que esse mecanismo não é exatamente uma invenção de Jazari, mas uma adaptação (ainda que extremamente engenhosa) de um mecanismo muito mais antigo, a manivela, já conhecida dos antigos romanos e largamente empregada por eles desde o século III a.C., e ainda em uso entre os contemporâneos do sábio turco. Todavia, a própria manivela não era uma invenção romana, pois artefatos arqueológicos recentemente encontrados apontam para o uso desse mecanismo pelos celtas da Península Ibérica já desde o século V a.C., empregado em moedores manuais para grãos. Seriam os celtíberos seus inventores? Impossível dizer.
Todas essas divagações me levaram a refletir sobre a historicidade das menores coisas, a ligar-nos qual fios invisíveis a centenas de gerações humanas, distantes no tempo e no espaço. Ora, pensemos em todo esse longo percurso saindo desde a elaboração da (aparentemente) primeira manivela pelos celtíberos, 2.500 anos atrás, espalhando-se por intermédio dos romanos, que passariam aos árabes seu uso, sendo apropriada, adaptada e modificada por Al-Jazari, desenvolvendo o sistema biela-manivela, que por sua vez chegaria três séculos mais tarde à Europa, onde seria empregada de inúmeras formas através dos últimos quinhentos anos, utilizada hoje para fins que não passariam pela cabeça dos celtíberos, dos romanos, dos árabes, de Al-Jazari ou dos moleiros europeus... por exemplo, fazer uma miniatura do Chaves caminhar graciosamente pela mesa de minha sala numa madrugada de sexta-feira!
No fim, os homens de todos os tempos e lugares estão ligados até pelas mais ínfimas coisas.
De fato,o mecanismo em si é belo por sua simplicidade. Funciona de modo semelhante ao pedal de uma bicicleta, mas de modo invertido, ou seja, o movimento circular da mola impulsiona suas pernas, enquanto em uma bicicleta são as pernas que impulsionam o movimento circular da roda traseira, através do pedal.
Essas observações me levaram a curiosas reflexões. Comecei a pensar sobre esse gênero de mecanismo, classificado como um sistema de biela-manivela, amplamente usado em boa parte das máquinas elaboradas pelo ser humano. Basicamente, é um mecanismo que serve para transformar movimentos retilíneos em circulares e vice-versa. O pedal da bicicleta ou o boneco do Chaves são bons exemplos disso. Poderiam ser citados ainda os motores em geral, as bombas hidráulicas, a maior parte das máquinas industriais, entre muitos outros. Não me aprofundarei mais nessas explicações, pois me faltaria o conhecimento necessário para tanto.
Pensando nisso, lembrei-me de um documentário que assisti faz algum tempo, sobre um engenhoso artesão, matemático e astrônomo turco, chamado Al-Jazari, que viveu entre os séculos XII e XIII. Segundo documentos encontrados recentemente, aparentemente Jazari inventou o "nosso" mecanismo biela-manivela. Seu intento era o de criar máquinas capazes de transportar água de modo automático e eficiente, geralmente tirando-a de corpos naturais de água como rios, lagos, etc e passando-a para aquedutos. Essa era uma funcionalidade de suma importância para a região onde Jazari vivia, dada a aridez de boa parte do Oriente Médio. O sistema biela-manivela parece ter chegado ao Ocidente por volta do século XV, sendo registrado num manuscrito alemão da época, aplicado ao funcionamento de moinhos.
Contudo, é ainda mais interessante pensar que esse mecanismo não é exatamente uma invenção de Jazari, mas uma adaptação (ainda que extremamente engenhosa) de um mecanismo muito mais antigo, a manivela, já conhecida dos antigos romanos e largamente empregada por eles desde o século III a.C., e ainda em uso entre os contemporâneos do sábio turco. Todavia, a própria manivela não era uma invenção romana, pois artefatos arqueológicos recentemente encontrados apontam para o uso desse mecanismo pelos celtas da Península Ibérica já desde o século V a.C., empregado em moedores manuais para grãos. Seriam os celtíberos seus inventores? Impossível dizer.
Todas essas divagações me levaram a refletir sobre a historicidade das menores coisas, a ligar-nos qual fios invisíveis a centenas de gerações humanas, distantes no tempo e no espaço. Ora, pensemos em todo esse longo percurso saindo desde a elaboração da (aparentemente) primeira manivela pelos celtíberos, 2.500 anos atrás, espalhando-se por intermédio dos romanos, que passariam aos árabes seu uso, sendo apropriada, adaptada e modificada por Al-Jazari, desenvolvendo o sistema biela-manivela, que por sua vez chegaria três séculos mais tarde à Europa, onde seria empregada de inúmeras formas através dos últimos quinhentos anos, utilizada hoje para fins que não passariam pela cabeça dos celtíberos, dos romanos, dos árabes, de Al-Jazari ou dos moleiros europeus... por exemplo, fazer uma miniatura do Chaves caminhar graciosamente pela mesa de minha sala numa madrugada de sexta-feira!
No fim, os homens de todos os tempos e lugares estão ligados até pelas mais ínfimas coisas.
Prometeu
Acorrentado jaz Prometeu,
No alto monte, solitário
Punido pelos deuses,
Esquecido pelos homens
O fogo sagrado trouxe aos mortais,
A luz do mundo para as trevas da ignorância,
E o universo não foi mais o mesmo
Cidades, artes, ciências brotaram
O pensamento a voar liberto
Mas Prometeu jaz acorrentado!
Humanidade ingrata!
Deuses injustos!
Prometeu jaz solitário...
O titã está sobre o Cáucaso,
Muito alto para os pobres mortais,
Beneficiados por seu sacrifício
Quem compreenderia o magnífico monte de Prometeu?
Por único companheiro,
O carrasco inclemente,
Cruel abutre,
A chafurdar na divina carne
Acorrentado, humilhado, torturado, sozinho!
Prometeu sorri
Do monte, contempla o Céu...
No alto monte, solitário
Punido pelos deuses,
Esquecido pelos homens
O fogo sagrado trouxe aos mortais,
A luz do mundo para as trevas da ignorância,
E o universo não foi mais o mesmo
Cidades, artes, ciências brotaram
O pensamento a voar liberto
Mas Prometeu jaz acorrentado!
Humanidade ingrata!
Deuses injustos!
Prometeu jaz solitário...
O titã está sobre o Cáucaso,
Muito alto para os pobres mortais,
Beneficiados por seu sacrifício
Quem compreenderia o magnífico monte de Prometeu?
Por único companheiro,
O carrasco inclemente,
Cruel abutre,
A chafurdar na divina carne
Acorrentado, humilhado, torturado, sozinho!
Prometeu sorri
Do monte, contempla o Céu...
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Mutts
Engraçadas, bem-humoradas, inteligentes, sensíveis, encantadoras. Assim são as tirinhas de Mutts, do cartunista Patrick McDonnell. Eu e Priscila o descobrimos por acaso, na estante de quadrinhos da Saraiva. Amor à primeira vista. Segue abaixo uma amostra:





Desculpem algumas que ficaram meio tortinhas... Bem, a essa altura, espero que você já esteja interessado em ler Mutts (se não estiver, isso só pode significar que é uma pessoa sem coração!). Em português há uma coletânea publicada pela Devir, baratinha (R$ 23,00 na Saraiva; R$18,50 na FNAC). Além disso, o site oficial disponibiliza diariamente as tirinhas (em inglês). Eu assinei (gratuitamente) e recebo todo dia no meu e-mail. Visitem: www.muttscomics.com





Desculpem algumas que ficaram meio tortinhas... Bem, a essa altura, espero que você já esteja interessado em ler Mutts (se não estiver, isso só pode significar que é uma pessoa sem coração!). Em português há uma coletânea publicada pela Devir, baratinha (R$ 23,00 na Saraiva; R$18,50 na FNAC). Além disso, o site oficial disponibiliza diariamente as tirinhas (em inglês). Eu assinei (gratuitamente) e recebo todo dia no meu e-mail. Visitem: www.muttscomics.com
Clã
Meu clã é minha vida
Nada seria sem ele
Nada sou fora dele
Meu abrigo
Meu escudo
Meu alimento
Minha espada
Meu clã
Nada seria sem ele
Nada sou fora dele
Meu abrigo
Meu escudo
Meu alimento
Minha espada
Meu clã
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Definindo "aforismo"...
aforismo, s.m. (gr. aphorismos). Máxima ou sentença, que em poucas palavras contém uma regra ou um princípio de grande alcance.
[adaptado do Dicionário brasileiro da língua portuguesa]
OU
AFORISMO. s.m..(do latim vulgar aphorismus, grego aphorismos, "definição"). Fórmula ou prescrição resumindo um ponto de ciência, de moral.
[adaptado do Petit Robert]
Escolha a definição que mais lhe agradar... Devo confessar que a segunda me agrada mais, por parecer menos pretensiosa.
[adaptado do Dicionário brasileiro da língua portuguesa]
OU
AFORISMO. s.m..(do latim vulgar aphorismus, grego aphorismos, "definição"). Fórmula ou prescrição resumindo um ponto de ciência, de moral.
[adaptado do Petit Robert]
Escolha a definição que mais lhe agradar... Devo confessar que a segunda me agrada mais, por parecer menos pretensiosa.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Consumerismo
Estive lendo recentemente sobre o conceito de "consumerismo", mais uma novidade pós-moderna. Não à toa, conheci a ideia através de um artigo escrito por uma publicitária, cujo nome tenho a sorte de não lembrar. Mas afinal, que vem a ser consumerismo?
Segundo a autora, é o modo de atuação social característico do homem pós-moderno. Enquanto o homem da modernidade seria movido pelas "utopias revolucionárias",o indivíduo da pós-modernidade age de um modo mais cool, praticando o consumo consciente, a saber, comprando apenas produtos que não agridam ao meio-ambiente, produzidos por empresas com responsabilidade social etc. Ou seja, alguém que age de modo consumerista, não consumista...
Me espanta primeiramente a passividade desse paradigma de indivíduo. No fim das contas, que tipo de mudança social pode-se visar através do dito consumerismo? Que as corporações ajam do modo que lhes convenha, restando-nos meramente a opção de exercer alguma pressão sobre elas através das nossas compras. O homem deixa de ser cidadão para tornar-se mero consumidor. Pior ainda, a capacidade de decisão do indivíduo passa a ser medida segundo seu poder aquisitivo.
Mas o comodismo dessa proposta incomoda-me mais que sua passividade. Afinal, as "utopias revolucionárias" da modernidade exigiam demais do indivíduo, não? O sujeito já tem tanta coisa para fazer e ainda precisa se cansar atuando politicamente de alguma forma? A alternativa pós-moderna é muito mais interessante: o cidadão pode fazer política no super-mercado ou no shopping-center...
Segundo a autora, é o modo de atuação social característico do homem pós-moderno. Enquanto o homem da modernidade seria movido pelas "utopias revolucionárias",o indivíduo da pós-modernidade age de um modo mais cool, praticando o consumo consciente, a saber, comprando apenas produtos que não agridam ao meio-ambiente, produzidos por empresas com responsabilidade social etc. Ou seja, alguém que age de modo consumerista, não consumista...
Me espanta primeiramente a passividade desse paradigma de indivíduo. No fim das contas, que tipo de mudança social pode-se visar através do dito consumerismo? Que as corporações ajam do modo que lhes convenha, restando-nos meramente a opção de exercer alguma pressão sobre elas através das nossas compras. O homem deixa de ser cidadão para tornar-se mero consumidor. Pior ainda, a capacidade de decisão do indivíduo passa a ser medida segundo seu poder aquisitivo.
Mas o comodismo dessa proposta incomoda-me mais que sua passividade. Afinal, as "utopias revolucionárias" da modernidade exigiam demais do indivíduo, não? O sujeito já tem tanta coisa para fazer e ainda precisa se cansar atuando politicamente de alguma forma? A alternativa pós-moderna é muito mais interessante: o cidadão pode fazer política no super-mercado ou no shopping-center...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Oração da felicidade de massas
Agradeço a ti, ó Pai,
Pois odeio meu emprego,
Não suporto minha família,
Não me sinto realizado,
Mas tenho DUAS TVs de plasma!
Pois odeio meu emprego,
Não suporto minha família,
Não me sinto realizado,
Mas tenho DUAS TVs de plasma!
Aforismos tavarianos
Não são necessárias leis onde há virtudes.
[levemente inspirado no humanismo cívico da Renascença]
[levemente inspirado no humanismo cívico da Renascença]
A tradição dos "Aforismos tavarianos"
A tradição dos célebres "Aforismos tavarianos", tão cantados em verso e prosa, surgiu há muuuuuito pouco tempo (parafraseando nosso querido King Size). Em Choses vues, um de meus antigos blogs, nos idos de 2004, ocasionalmente fazia alguns posts com pequenos pensamentos, sob a forma de aforismos (para uma definição completa de aforismo, procurem algum bom livro sobre Paremiologia, a ciência que estuda aforismos, ditados, provérbios e afins. Sim, isso existe!).
Um belo dia, meu querido amigo Alexandre Ramos, num comentário no extinto blog, os qualificou como "Aforismos tavarianos". Pronto, surgiu o nome! À época não passei imediatamente a chamá-los dessa forma, mas rendendo homenagem ao antigo blog e ao amigo Alexandre, passo a empregá-lo como uma categoria de post.
E enquanto este Tavares continuar existindo, a tradição dos "Aforismos tavarianos" manter-se-á sempre viva!
The end
Um belo dia, meu querido amigo Alexandre Ramos, num comentário no extinto blog, os qualificou como "Aforismos tavarianos". Pronto, surgiu o nome! À época não passei imediatamente a chamá-los dessa forma, mas rendendo homenagem ao antigo blog e ao amigo Alexandre, passo a empregá-lo como uma categoria de post.
E enquanto este Tavares continuar existindo, a tradição dos "Aforismos tavarianos" manter-se-á sempre viva!
The end
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Sociedade do Conhecimento
Estranha sociedade!
Tanta pressa para andar em círculos,
Qual cão a correr atrás da cauda,
Em velocidade infinita,
Via satélite
Tanta pressa para andar em círculos,
Qual cão a correr atrás da cauda,
Em velocidade infinita,
Via satélite
sábado, 30 de janeiro de 2010
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Trágicas
A Sófocles, Eurípedes, Ésquilo, e todos que vieram depois
Se a vida for tragédia,
Que eu suba ao palco
Com a serenidade de Prometeu,
A coragem de Antígona,
A confiança de Efigênia,
A resignação de Édipo,
A persistência de Hamlet,
E a energia de Hernani
Se a vida for tragédia,
Que eu suba ao palco
Com a serenidade de Prometeu,
A coragem de Antígona,
A confiança de Efigênia,
A resignação de Édipo,
A persistência de Hamlet,
E a energia de Hernani
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Mercado editorial
Estava reparando a imensa quantidade de livros sobre Hitler nas prateleiras das livrarias: "Os falsários de Hitler", "O pianista de Hitler", "Os soldados de Hitler", etc, etc, etc, etc. Pensando nisso, usando de toda minha generosidade proponho aqui alguns títulos de livros que certamente se tornariam sucessos editoriais imediatos. Quem quiser servir-se deles para escrever as obras propriamente ditas, sinta-se à vontade! Não faço questão de participação nas vendas, mas não me incomodaria com uma eventual menção nos agradecimentos! ;-)
"O Hitler de Hitler" (esse é genial!)
"Quem mexeu no meu Hitler?"
"O Hitler de Cabul" [autoria em litígio; aguardem decisão do escritório de direitos autorais]
"Hitler & Julia"
"Hitler & eu - a vida e o amor ao lado do maior Führer do mundo" (esse poder seguir a forma de diário de um dos cães dele!)
"O Hitler e o executivo"
"A cabana de Hitler"
"O código de Hitler"
"Hitlers e demônios"
"Hitler - o filho da Áustria"
"Harry Hitler e a pedra filosofal" (etc)
"O Hitler do pijama listrado"
"Hitler, amar e rezar"
"Ritler (sic) decide morrer"
"Os templários de Hitler"
TÍTULOS RELACIONADOS
"1001 nazistas para conhecer antes de morrer"
"Nazistas são de Marte, Fascistas são de Vênus"
"O Hitler de Hitler" (esse é genial!)
"Quem mexeu no meu Hitler?"
"O Hitler de Cabul" [autoria em litígio; aguardem decisão do escritório de direitos autorais]
"Hitler & Julia"
"Hitler & eu - a vida e o amor ao lado do maior Führer do mundo" (esse poder seguir a forma de diário de um dos cães dele!)
"O Hitler e o executivo"
"A cabana de Hitler"
"O código de Hitler"
"Hitlers e demônios"
"Hitler - o filho da Áustria"
"Harry Hitler e a pedra filosofal" (etc)
"O Hitler do pijama listrado"
"Hitler, amar e rezar"
"Ritler (sic) decide morrer"
"Os templários de Hitler"
TÍTULOS RELACIONADOS
"1001 nazistas para conhecer antes de morrer"
"Nazistas são de Marte, Fascistas são de Vênus"
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Bom dia?
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Ítaca
Os muros de Tróia invadi
Os deuses desafiei
Mares, em jornadas infinitas, cruzei
O canto das sereias ouvi
De Polifemo ciclope escapei
As águas mortais de Scila e Caribde venci
Com Circe, a bruxa, vivi
O amor de Alcíone, a deusa, neguei
Às profundezas de Hades fui
E à superfície voltei
Mil perigos afrontei
Mil glórias tive
Mil maravilhas presenciei
Somente em Ítaca, a bela, humilde paz encontrei.
OBS: Tem um pequeno glossário onomástico para "não-humanistas" nos comentários!
Os deuses desafiei
Mares, em jornadas infinitas, cruzei
O canto das sereias ouvi
De Polifemo ciclope escapei
As águas mortais de Scila e Caribde venci
Com Circe, a bruxa, vivi
O amor de Alcíone, a deusa, neguei
Às profundezas de Hades fui
E à superfície voltei
Mil perigos afrontei
Mil glórias tive
Mil maravilhas presenciei
Somente em Ítaca, a bela, humilde paz encontrei.
OBS: Tem um pequeno glossário onomástico para "não-humanistas" nos comentários!
Aforismos tavarianos
A mentira é a arma dos covardes.
O deboche é a arma dos estúpidos.
A franqueza é a arma dos homens.
O deboche é a arma dos estúpidos.
A franqueza é a arma dos homens.
Retorno
Aqui estamos mais uma vez no mundo dos blogs... Como diria Bilbo Bolseiro, "there and back again". Vamos ver se consigo manter um blog com trabalho e doutorado. Como disse no perfil, "uma viagem perigosa"!
<--- Veja!
Por aqui vocês verão algumas de minhas divagações, reflexões e também um pouco de poesia e prosa. Nesse sentido, será uma travessia arriscada também para vocês!
Acho que falar dos títulos é um bom começo. "A rota para o Poente" remete, para mim, a inúmeros significados. Em inúmeros corpos legendários, o oeste, a direção em que o Sol se põe, é a terra misteriosa, onde acontecem maravilhas ou onde vivem os mortos. É a infinitude desconhecida do Oceano a estender-se em direção ao horizonte inalcançável. Por outro lado, também é o Ocidente, como dizem os alemães, Abendlandt, "terra da tarde" ou "terra do poente". Sou apaixonado pela cultura ocidental. Pela oriental também, mas acho que muitas vezes existe um excesso de negação ao nosso próprio legado cultural. Sou socrático, platônico, aristotélico, homérico, alexandrino, ciceroniano, aurelino, cristão, agostiniano, carolíngio, abelardiano, escotiano, occaniano, troyesiano, ronsardiano, erasmiano, morusiano, "vivaldino", molieriano, bachiano, cartesiano, kantiano, voltairiano, rousseauniano, marxista, weberiano, fabianista (sem trocadilhos!), queirosiano, machadiano e, principalmente, hugoliano, de carteirinha!
Quanto à URL, é simples: Hauteville House é o nome da casa em que meu ídolo Victor Hugo passou seus vinte anos de exílio, situada na ilha de Guernsey, no arquipélago anglo-normando, enquanto esperava o fim do império de Napoleão III, ou "Napoléon, le Petit", como ele gostava de dizer.
Já o "druida Camulogenio" vem por conta das minhas raízes célticas. Os druidas, como sabem os leitores de Astérix, eram os sábios entre os celtas. Não que eu seja sábio, mas um dia chego lá! Já Camulogenio, como o sabem muitos de meus amigos, era o chefe da tribo dos Senões, e um dos principais líderes gauleses durante a Guerra das Gálias, contra os invasores romanos. Ele era um homem já idoso, muito respeitado, e liderou as tropas gaulesas na batalha de Lutécia (antigo nome de Paris), de onde saíram vitoriosos. Detalhe importante: ele não era um druida! Blog de historiador é uma coisa!
Por fim, Tirion era a cidade construída pelos elfos na colina de Tuna, na terra abençoada de Aman (situado no Ocidente!), no legendarium de Tolkien. Devia ser uma cidade muito bonita, enquanto existiu (não tenham dúvidas da existência de Tirion sobre Tuna!). Qualquer hora dessas eu me mudo para Nargotrond ou Gondolin!
Um grande abraço a todos e espero que gostem do blog!
<--- Veja!
Por aqui vocês verão algumas de minhas divagações, reflexões e também um pouco de poesia e prosa. Nesse sentido, será uma travessia arriscada também para vocês!
Acho que falar dos títulos é um bom começo. "A rota para o Poente" remete, para mim, a inúmeros significados. Em inúmeros corpos legendários, o oeste, a direção em que o Sol se põe, é a terra misteriosa, onde acontecem maravilhas ou onde vivem os mortos. É a infinitude desconhecida do Oceano a estender-se em direção ao horizonte inalcançável. Por outro lado, também é o Ocidente, como dizem os alemães, Abendlandt, "terra da tarde" ou "terra do poente". Sou apaixonado pela cultura ocidental. Pela oriental também, mas acho que muitas vezes existe um excesso de negação ao nosso próprio legado cultural. Sou socrático, platônico, aristotélico, homérico, alexandrino, ciceroniano, aurelino, cristão, agostiniano, carolíngio, abelardiano, escotiano, occaniano, troyesiano, ronsardiano, erasmiano, morusiano, "vivaldino", molieriano, bachiano, cartesiano, kantiano, voltairiano, rousseauniano, marxista, weberiano, fabianista (sem trocadilhos!), queirosiano, machadiano e, principalmente, hugoliano, de carteirinha!
Quanto à URL, é simples: Hauteville House é o nome da casa em que meu ídolo Victor Hugo passou seus vinte anos de exílio, situada na ilha de Guernsey, no arquipélago anglo-normando, enquanto esperava o fim do império de Napoleão III, ou "Napoléon, le Petit", como ele gostava de dizer.
Já o "druida Camulogenio" vem por conta das minhas raízes célticas. Os druidas, como sabem os leitores de Astérix, eram os sábios entre os celtas. Não que eu seja sábio, mas um dia chego lá! Já Camulogenio, como o sabem muitos de meus amigos, era o chefe da tribo dos Senões, e um dos principais líderes gauleses durante a Guerra das Gálias, contra os invasores romanos. Ele era um homem já idoso, muito respeitado, e liderou as tropas gaulesas na batalha de Lutécia (antigo nome de Paris), de onde saíram vitoriosos. Detalhe importante: ele não era um druida! Blog de historiador é uma coisa!
Por fim, Tirion era a cidade construída pelos elfos na colina de Tuna, na terra abençoada de Aman (situado no Ocidente!), no legendarium de Tolkien. Devia ser uma cidade muito bonita, enquanto existiu (não tenham dúvidas da existência de Tirion sobre Tuna!). Qualquer hora dessas eu me mudo para Nargotrond ou Gondolin!
Um grande abraço a todos e espero que gostem do blog!
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