Em esquecida rua da velha Atenas,
Sepultada em imunda sarjeta,
Caída de ébria mão,
A dracma prateava ao luar
Perdida, frágil, confusa,
A moeda começou a sonhar...
Sonho estranho,
Pesadelo quase,
Sobre séculos vindouros...
Sonhava futuro brilhante para seus sucessores,
Idolatrados como deuses pelos homens criados,
Fetiches encantados, em cofres sacrossantos...
Durante séculos sua raça dominava a terra,
Crescia e multiplicava-se,
Correndo em rios vorazes por todo o planeta
Por ela, homens viviam, morriam, matavam,
Por seu frio toque e estridente tilintar,
Atravessavam oceanos bravios,
Mergulhavam às entranhas da terra,
Vertiam suor, sangue, lágrimas,
Escravizavam seus irmãos,
Prostituíam corpos e mentes,
Se entregavam ajoelhados ao império do dinheiro!
Dinheiro, dinheiro!
No sonho, era senhor e mestre da vida,
Cobiçado elixir da felicidade,
Comprava luxos, mulheres, consciências, reputações,
Era medida de todas as coisas!
Toda existência se diluía na abstração de seus números!
Água, terra, ar, florestas, animais, tudo virava valor,
Comprado ou vendido sob o império da divina moeda!
Ele regia o mundo:
Sociedade, mercado, governo, igreja, escola,
Todos seguiam suas ordens, imperiosos desejos!
Os homens se iludiam, era o dinheiro que os fazia!
Sim, não existiam de verdade, eram apenas sonho que o dinheiro sonhava!
Mesmo seus sonhos eram sonhos que o dinheiro sonhava por eles!
Se reduziam a dóceis fantoches imaginados pela moeda...
"Zeus, Poseidon, Hades,
Hera, Afrodite, Palas,
Calai-vos!
Eu - apenas eu - sou poder, beleza e sabedoria!"
Assustada, despertou a dracma,
Apanhada do chão,
Guardada ao seio de uma meretriz que passava...
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