Dragão nas trevas,
Dorme, sonha
No ventre da terra,
Caverna profunda
Olhos fechados,
Roncando troveja,
Se vira, aconchega,
Resmunga e sorri
Livre no céu,
Em seu sonho voa
Entre brancas nuvens,
No macio azul
Vento sente,
Gira e rodopia,
Mergulha e decola,
Livre, livre, livre!
Avista o alvo;
Embica, mergulha,
Veloz, invencível,
Ataca e abocanha
Ah, carne fresca,
Sangue quente!
O ventre empapuça,
Em morno prazer
Gordo e roliço,
Era um padre,
De macia carne,
De tanto rezar
Amém!
Grunhe a fera;
Rosna e decola,
Sorriso na fuça
Voa mais!
Mais contente,
Mais alto,
Mais acima,
Mais além...
Na alta montanha,
Estranho castelo
"Toca de homem..."
Pensa a besta
"Quero ver!"
Curioso e valente,
A bizarra caverna
Deseja entender
Voa perto,
Voa baixo,
Arisco, se arrisca,
Só para olhar
De repente...
Medo!
Pânico!
Pavor!
Certeiras, selvagens
As setas disparam
Homens armados,
Arqueiros valentes
Escama se rompe
E sangue jorra;
Fraqueja a fera,
Da altura cai
No chão se espatifa,
Com ruído e estrondo
Quebra a pata,
Não levanta mais
Homens... mais!
Cercam, espetam,
Com lança e espada:
Dor, dor, dor...
O olho se fecha,
Chora o dragão,
Urra sofrendo,
Agonia e terror
Se mexe, baba, acorda...
Nada de homem,
Espada, flecha ou lança...
Apenas a caverna,
E restos da janta!
Se ajeita, aconchega, dorme outra vez...
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