quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O gigante

Seu coração era enorme
Corria em suas veias Amor

Com mãos enormes
Cavava canais,
Abria caminhos,
Achanava terrenos
Derrubava montanhas;
Tudo em benefício dos pequenos homens,
Frágeis homens

E eram gratos
Cantavam, festejavam, louvavam
As crianças brincavam,
Subiam, desciam, pulavam
Em suas mãos enormes
As mulheres faziam quitutes
Para seu titânico apetite

Em cada aldeia, em cada burgo,
Em cada província, em cada reino
A chegada do amigo era comemorada

Humilde, agradecia,
Mas de nada precisava...
Nem exigia!
Desinteressado seguia,
Ajudando os homens,
Compadecido da pequenez

Passou o tempo;
Geniais e geniosos,
Os homens inventaram,
Inventaram muito:
Máquinas de paz,
Máquinas de guerra

Dispensavam o gigante
Era desnecessário
Sua pujança, ah!
Lembrava-lhes sua fraqueza

O amigo incomodava,
Contrastante testemunho
Da fragilidade humana

Ao bondoso titã
Guerra declarou-se
Seu grande coração,
De tristeza se encheu

Com tanques-formiga,
Aviões-mosquito,
Petardos-ferrão,
Tentavam ferir a montanha

Apenas caminhava
O benfeitor,
Evitando o pisão
Em algum minúsculo

Sumiu
Não visitava aldeias,
Não aparecia em burgos,
Não o viam as províncias,
Esqueceram-no os reinos

Seguiram os homens,
Sua vidinha de baratas

Mas não viam...
Não sabiam...
À noite...
Quando todos dormiam...
Silencioso...
Sorrateiro...
Lá estava ele...
Cavando canais...
Abrindo caminhos...
Achanando terrenos...
Derrubando montanhas...

Tudo em benefício dos pequenos homens,
Mesquinhos homens...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fúria

Tudo tombava ante sua fúria selvagem

Sedenta,
Sua espada nada poupava

A fúria ardia em seu peito,
Santa fúria,
Fúria infernal

Sua mente queimava
De ódio plena
Ódio contra o mundo
Ódio contra tudo

Espada,
Lança,
Machado,
Martelo,
Tudo que destrói,
Tudo que mata,
Era sua ferramenta

Seu coração era abismo sombrio,
Poço sem fundo,
Noite sem lua,
Ansiando justiça,
Ansiando vingança

Quem deteria tal fera?
Quem mataria tal demônio?

Tudo tombava ante sua fúria selvagem

domingo, 26 de setembro de 2010

Arundel

À beira do rio,
Despreocupada,
Brinca Arundel

Flores cheira,
Corre entre árvores,
O mundo ignora

Seria plebeia?
Seria nobre?
Arundel não sabe;
É criança apenas

Pequeno é seu mundo;
Casa, Quinta, Igreja,
Mais nada

Abraçada ao cãozinho,
Dorme Arundel,
Sonha inocente

Canta Arundel,
Sorrindo dança,
Ninguém entende...

Arundel é feliz!

Tárik e Roderico

Brilha o Sol,
Infernal calor,
Ofuscantes reflexos,
No Guadalete

Massas se espremem;
De um lado a Cruz,
De outro o Crescente
Meros pretextos

Espuma Tárik,
Rosna Roderico

Soam trombetas
Voam setas
Trotam cavalos
Retinem espadas
Ressoam escudos
Avançam lanças
Cedem ventres
Rolam cabeças
Pendem braços
Saltam vísceras
Caem miolos
Tombam homens

Sangue, sangue, sangue!

Passáros carniceiros
Famintos lobos
Escumam de apetite
Macabro repasto!
O campo de batalha é cozinha fumegante

Bravos atacam godos
Timidos recuam mouros
Roderico sorri
Tárik espera

A Cruz parece rir do Crescente

A tarde avança
Os godos também
O sangue vira lago;
Os cadáveres, montanha

Impávido corre Roderico:
Espada em riste,
Mergulha sobre o infiel
Esmagado pelas patas do cavalo

Trágico cálculo...
Os godos perdem o rei;
Entre muralha de mouros,
Roderico está só

Roderico gargalha
Roderico sangra
Roderico golpeia
Roderico morre

Corre o rumor
"O rei está morto!"
Corre o terror
Tomba decapitada a tropa goda

Qual cimitarra,
O sarraceno avança
Tárik sorri

O godo desespera
O godo recua
O godo foge

Livra-se o caminho de Toledo
Abrem-se as portas da conquista
De Gibraltar aos Pirineus
Brilha já o Crescente

Com Roderico morre uma era;
Com Tárik nasce outra

Ah, Guadalete, doloroso parto!

Morte ao Reino dos Godos!
Viva o Califado de Toledo!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Butão

Drukyul,
Fantasia,
Sonho,
Utopia

Terra da virtude
Longe, longe
A loucura ocidental

Sereno azul
O céu abençoa
A felicidade do reino

Sábio governa o rei
Confiante vive o povo

Evolam-se preces
Por monges entoadas
A paz sobe às estrelas


Utopia,
Sonho,
Fantasia,
Drukyul