quarta-feira, 24 de março de 2010

Teia

Sol
Planta
Fotossíntese
Glicose
Energia
Vida
Horta
Caixote
Caminhão
Feira
Dinheiro
Panela
Prato
Boca
Ventre
Energia
Vida
Tempo
Túmulo
Bactéria
Humus
Planta
Sol...

Aforismos tavarianos

A discrição pode ser uma forma de misericórdia.

Arlequim

Arlequim canta,
Arlequim pula,
Arlequim dança,
Arlequim ri,
Arlequim lê,
Arlequim sonha,
Arlequim sorri,
Arlequim briga,
Arlequim dorme,
Arlequim come,
Arlequim pensa,
Arlequim brinca,
Arlequim corre,
Arlequim joga

Se olha no espelho:

-Arle... quem?
Arlequim?
Quem?

Não sabe mais
Sua alma está dividida,
Remendada,
Retalhada
Mais que seu manto multicor

Arlequim chora...

terça-feira, 23 de março de 2010

Aforismos tavarianos

A compaixão é bálsamo para a mente.

O bravo e pio Duque Rogoaldo de Morúsia

Nenhum fidalgo há
Tão bravo e forte
Pio e santo
Quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia

Na segunda, tomou três castelos,
Na terça, destruiu dez cidades
Na quarta, arrasou cem plantações
Na quinta, enforcou mil hereges
Na sexta, matou dez mil soldados
No sábado, preou cem mil escravos
No domingo, sentou e assistiu a missa

Haverá fidalgo tão bravo, forte, pio e santo quanto o Duque Rogoaldo de Morúsia?


Em 11 de março do ano 2010 da graça do Senhor

domingo, 21 de março de 2010

Sabedoria

Egoberto reinava sobre o povo de Vanitia. Era um rei muito sábio, conhecedor profundo de todos os saberes e fazeres do mundo: Retórica, Alquimia, Poesia, Filosofia, Astrologia, Teologia, nada, nada lhe escapava. Nenhuma biblioteca no mundo se igualava à de Egoberto, abrigando tomos e mais tomos cuidadosamente iluminados pelos mais caprichosos copistas. As paredes de seu palácio ostentavam afrescos pintados pelos mais preciosos artistas do mundo e estátuas cinzeladas pelos mais requisitados escultores se posicionavam harmoniosamente ao longo das salas e corredores. Seu gabinete de curiosidades guardava as mais raras peças que um colecionador poderia se gabar de possuir. Sua mapoteca tinha as mais completas e precisas cartas celestes, terrestres e marítimas, executadas pelos mais habilidosos cartógrafos.

Egoberto amava a sabedoria e as conversações sutis como mais ninguém no mundo. Poderia passar horas debatendo sobre os mais diversos tópicos sem se cansar minimamente. E que polemista era o rei Egoberto! Estava por nascer aquele que conseguiria alinhavar argumentos tão precisos e astutos quanto os seus, pois o rei sempre tinha a última palavra em todas as discussões. Ninguém era capaz de apreciar uma obra literária ou plástica com comentários tão refinados e eruditos quanto os seus. Egoberto amava a sabedoria e era um sábio.

Mas ele odiava todas as coisas medíocres, prosaicas e mundanas, e odiava ainda mais as pessoas medíocres, prosaicas e mundanas. Sentia verdadeira repugnância pela maioria dos habitantes de se reino, lavradores e artesãos ignorantes e iletrados, incapazes de proferir uma frase corretamente ou fazer qualquer observação minimamente sutil. Gente grosseira e mesquinha, sem qualquer valor! Era com asco que Egoberto via a maioria de seus súditos, escapando a sua companhia insuportável sempre que possível, tolerando-os apenas quando estritamente necessário.

Por isso mesmo buscava cercar-se sempre das companhias mais sofisticadas, os mais doutos de seu reino e de outros, entretendo longas horas de agradável e delicada conversação, satisfazendo-se todos em deleitosas frases e elevadas polêmicas. Mesmo os criados palacianos de Egoberto eram cuidadosamente selecionados entre os mais toleráveis membros da populaça, pois não aguentaria ter seu chá servido com linguagem vulgar.

Certo dia Egoberto, cansado e encolerizado da lida com seus ignaros súditos, tomou uma decisão revolucionária: transformaria Vanitia num reino onde existisse apenas a luz da sabedoria. Seu reinado seria recordado para todo o sempre como a mais áurea era do espírito humano. Para tanto, convidou os maiores eruditos de todo o mundo para formar em seu palácio um nobilíssimo colégio, onde entreter-se-iam por anos a fio com os mais inextricáveis problemas do conhecimento humano. Por outro lado, ordenou que todos os demais súditos de seu reino, a gente rude e oca que não suportava, fossem embora de seu reino, indo habitar as abandonadas terras vizinhas.

E assim se fez.

O palácio de Egoberto fez-se morada para os maiores gênios de todos os ramos do pensamento, que refestelavam-se em lautos banquetes e animados debates pelas noites adentro, em salões iluminados por milhares de velas, ou em sapientíssimos ágapes em frescas tardes primaveris, sob caramanchões cobertos de sebes floridas. Seria impossível descrever o elevadíssimo teor das conversações ali entretidas.

Mas certo dia, não muito distante, o mordomo do palácio veio com triste semblante comunicar ao rei uma desagradável notícia: haviam se acabado todos os víveres dos armazéns do palácio e não havia alimento sequer para a próxima refeição. A notícia foi comunicada aos convivas, que resolveram sofrer estoicamente, decididos a não deixar se apagar o precioso lume do intelecto que brilhava naquele palácio, continuando suas doutas reuniões.

Mas ao cabo de três dias ninguém sentia-se animado para os rutilantes diálogos.

Ao fim de uma semana muitos suicidaram-se em desespero.

Alguns, em aflição, rebaixaram-se a tomar do arado e outras rudes ferramentas para tentar prover seu necessário sustento, mas faltavam-lhes o conhecimento e a habilidade para tanto.

Egoberto deitou-se em febril depressão, e definhou chorando até morrer de fome, em poucos dias.

Em menos de um mês todos os membros da auspiciosa assembléia nada mais eram que putrefatos cadáveres exalando cheiros insuportáveis pelo belíssimo palácio.

Dizem as lendas que os camponeses rudes, medíocres, grosseiros, prosaicos e mundanos formaram um próspero no reino nas ermas terras onde se exilaram. Lá não brilhava a augusta luz da sabedoria, mas sobreviveram.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ergo

A Descartes, Marx e Weber

A lógica é racional?
Eis curiosa questão!
Tão contrária a si mesma
É a Razão...

De fato,
A Razão parece ter razões
Que o próprio coração desconhece!

Quanto maior a soma,
Maior a miséria:
Loucura?
Ou ciência econômica?

A inteligência avança,
O saber caminha,
O gênio engenhos constrói,
De morte, destruição, dor!

Mais veloz que Hermes,
O homem se comunica...
Pra saber da novela,
E "celebridades" vazias!

A natureza morre!
Com gases, embalagens, petróleo,
Construímos o monumento de nossa era...
Nosso mausoléu!

A prosperidade aumenta,
A felicidade diminui,
A paz inexiste,
A alegria sufoca!

Cogitamus, ergo sumus...
Requiescamus in pace!

Fev. 2010

Aforismos tavarianos

Não há miséria maior que um coração vazio.

terça-feira, 16 de março de 2010

Leo Magnus

As bestas-feras correm, correm
Sórdidas, sombrias, fétidas
Mesquinhas, tolas, superficiais
Querem pegá-lo
Tentam alcançá-lo

Suas patas disformes querem agarrá-lo
Suas garras pútridas querem arranhá-lo
Seu faro insípido tenta encontrá-lo

Mas não conseguem

Garboso e altivo corre o Leão
Sua trilha está muito, muito além
Da compreensão das simples bestas
Longe demais de suas patas, garras e faro

Sua velocidade é incomparável
O Leão corre
As bestas pensam fazê-lo
...mas rastejam, ventre colado ao chão...

O Leão corre,
Corre,
Corre,
Corre!

O vento acaricia sua juba
O sol beija seu corpo,
Em dourados reflexos

O Leão sorri;
Sabe ser Leão

sábado, 13 de março de 2010

The Dark Knight

On the rooftops of Gotham
Lurks a shadow creature

He holds tragedy on his shoulders
His hearth is heavy of past

All his sorrows became holy anger

Beware,
You that crawl on evil!

His chase never ends
He preys every night

He will catch you,
He will drag you under the claw of justice

Because he is the dark defender of light,
The Gotham protector,
The Dark Knight,

THE BATMAN!